domingo, 12 de agosto de 2012

TEXTO CRÍTICO - A FEBRE DA ENFERMAGEM


Febre pode suscitar ideia de moda. Algo que se cria naturalmente, com início de certa maneira obscuro, um fato ocorrendo por acaso, um flagra, um plágio e então se cria uma tendência. As tendências, efêmeras, desaparecem da mesma maneira como surgem. Nos deparamos com elas sem querer nas lojas, nos programas de televisão, nas músicas e até nas profissões. E é desta última que quero falar. A febre da enfermagem. Trata-se de uma tendência forte de enfermeiros migrarem para a medicina. Porém, nesse caso, há uma evolução bem palpável. No ano de 2004, o salário base de um enfermeiro no nosso estado era aproximadamente R$ 4.500. Hoje, oito anos depois, o mesmo geralmente entremeia R$ 2.000 e R$ 3.000, a maioria no primeiro patamar. Numa das três cidades em que trabalhei, o edital para o concurso a ser realizado em 2011 previa um período de trabalho de 40 horas com salário abaixo dos R$ 2.000. Na mesma cidade, um projeto aprovado pelo Estado em 2010, elaborado por uma enfermeira, rendeu à cidade um financiamento de R$ 180.000,00. Esse não reconhecimento se passa sob as barbas do órgão regulador da enfermagem, o COFEN/CORENS que parece se preocupar mais em disseminar novos cursos como se fossem vírus, fornecer congressos que apenas alunos abastados podem pagar e cogitar projetos como o que permitia proferir ao técnico de enfermagem o título de terceiro grau, caso realizassem mais dois anos de estudos, sem necessidade de prestar vestibular – não desvalorizando essa classe, que é a base de todo o hospital, mas não concordando com a obtenção da graduação de grau superior sem o crivo de uma prova classificatória. Fala-se de exame de ordem como na advocacia, porém, com a chance de diminuir o ingresso das centenas de novos profissionais de enfermagem formados todos os anos, esse rumor tende a continuar como está.
Caso alguém queira notar, pela lei da oferta e procura, quanto mais profissionais num mercado não excedente, menores os salários, porém, maior o número de profissionais engordando os cofres do respectivo  órgão regulador com as anuidades. E foi assim que num período de oito anos, mesmo com o aumento do custo de vida, o salário para um enfermeiro da rede básica retraiu em média 40%. Os erros de enfermagem, como os propalados pela imprensa, são frutos desse decréscimo, pois obrigam o funcionário a ter dois ou até três empregos, ceifando em muito sua capacidade de atenção e assim de evitar a imprudência, não importa quão competente seja.
Então a febre antes falada me contaminou, e hoje, recém aprovado no curso de medicina, passo alguns minutos abatido pelo sentimento de traição, logo suprimido pela sensação de que o órgão regulador da minha atual profissão enfatiza o enfermeiro sempre no início do ano, período de envio de carnê de anuidade. Esse é enviado em residência com toda a comodidade. Ainda pode-se aceitar que o problema seja apenas falta de divulgação de ações de proteção à enfermagem, que o COFEN esteja trabalhando em prol da profissão, mas que não vem tendo resultados positivos, ou ainda a  falta de políticos que enxerguem a classe como uma fonte de votos. Por isso convoco o tão glorioso COFEN/CORENS para fazer saber suas ações, pois de longe, sua postura mais se assemelha à feira de venda de permissão para novos cursos.
O que se tem a comemorar é o surgimento de uma classe de profissionais altamente formados: os médicos enfermeiros, ou enfermeiros médicos, já que possuem saberes que englobam o funcionamento do sistema de saúde, a humanização e a lógica da fisiopatologia humana. Quem acaba ganhando é a medicina. Então que fique para o CREMEB, o papel de agradecer ao COFEN por pré-prepararem alguns dos seus representantes, pois os enfermeiros não sabem pelo que fazer.

JAIRO LEÃO 03/01/2012

4 comentários:

Hany disse...

Acredito que a enfermagem nos acrescenta, pois somos humanos e vemos o outro não como um outro mas como espelho de nós mesmos. Então... rumo à nossa nova profissão, enfermeiros médicos com muito orgulho.

Maria disse...

Nossa, suas informações foram fortes e incrivelmente fieis a realidade!
Sucesso,amigo!

Marcela disse...

Concordo com a crítica e difícil realidade exposta pelo colega. diariamente me pergunto o por que do descaso dos nossos conselhos com a nossa profissão tão bonita e recompensatória pelo simples fato do cuidar humanizado e o reconhecimento de alguns clientes frente aos nossos atos.o estímulo para o trabalho é pautado nesse reconhecimento. ademais: conselhos, gestores... nos desestimulam a cada dia com salários indignos e sobrecarga de trabalho. contudo sigo cuidando daqueles que precisam da minha atenção e cuidado. Jairo, parabéns e sucesso sempre.

Unknown disse...

Obrigado Marcela. Percebo que compartilho com seus sentimentos. Que pena.