FIBROMIALGIA
FIGURA 01: Localizações de dor mais características na fibromialgia. Disponívl em: http://amiceclinica.com.br/?p=256. |
Condição
crônica, não neuromuscular que se caracteriza basicamente por dor difusa,
concentrada em pontos específicos bilaterais (tender points), sensação de
fadiga e deturpação da qualidade do sono.
Incide principalmente em pessoas entre 35 e 60 anos, expressivamente
mais em mulheres 9:1, com prevalência variando entre 2 a 11,5%. Não é comum em
adolescentes, mas quando ocorre (frequência de 1,2 a 6,2% da população), em 71%
dos casos há acometimento também da mãe.
A etiologia é
desconhecida, embora haja teorias acerca do assunto. Sabe-se que o problema
culmina numa hipersensibilidade a estímulos periféricos, tais como calor,
pressão e corrente elétrica, sendo interpretados pelo sistema nervoso como
sinais nociceptivos (dor). Fatores emocionais têm sido abordados como
desencadeadores, assim como amplificadores das sensações dolorosas. Outra
informação já conclusa é diminuição dos níveis de serotonina no soro e no LCR,
além da diminuição da epinefrina no LCR e no aumento de substância P (subst.
proteolítica) em 300 a 400% além do normal. Essas modificações ocorrerão onde
os primeiros agem como inibidores da dor e o último como desencadeador. A
diminuição do fluxo cerebral em áreas envolvidas na modulação da dor, tais como
o núcleo caudado, o núcleo pontinho e o tálamo parece estar envolvida, mas
ainda de forma indefinida.
Estudos já
comprovaram que indivíduos portadores de fibromialgia (FBM) não possuem
distúrbios na fibra muscular, apesar da manifestação evidente nela. As diversas
teorias citadas tentam buscar algumas explicações para o problema, tais como a
de que a fibromialgia seja resultado de distúrbios endócrinos envolvendo o
hormônio tireoidiano e na secreção de hormônio do crescimento. O Sono se
apresenta de difícil início, fácil interrupção, difícil de ser retomado,
agitado, de despertar precoce e por isso não provedor de sensação restauradora.
Ele é modificado por conta de alterações na secreção de serotonina e da
substância proteolítica. O aumento no tônus simpático promove contração mantida
de músculos com consequente redução de oxigenação e isquemia, o que aumenta a
sensibilidade à dor nas áreas envolvidas.
Microtraumas
vasculares aliados a uma predisposição genética de recolhimento de cálcio em
excesso nas células aquém do ideal aumenta a contração muscular e diminui a
oxigenação, assim como o mecanismo anterior. A diferença é que essa teoria adiciona
uma diminuição da capacidade das mitocôndrias em gerar ATP, o que produz a
fadiga. Traumas maiores como no chicote cervical também estão envolvidos no
desencadeamento da fibromialgia.
Como os
sintomas de hiperventilação reproduzem com semelhança os sintomas da
fibromialgia, teoriza-se que possa ser resultado também de uma diminuição basal
dos níveis de dióxido de carbono e consequentemente de ácidos sanguíneos. Isso
é comprovado através da resposta positiva de alguns pacientes após a reeducação
respiratória. Dentre outros sinais produzidos da FBM estão os tender points,
que são pontos de contração muscular espalhados pelo corpo com sensibilidade
alterada. Tais elementos poderiam ser causados por uma vasoconstricção sob sua
área que poderia resultar numa hipóxia suficiente para a produção da dor. Uma
alteração já identificada é a diminuição da velocidade de eritrócitos e da
temperatura sob os tender points, comparados ao grupo controle.
Enfim essas
teorias tentam explicar as manifestações e são utilizadas como critérios
maiores e menores da FBM. Um critério maior é a presença de dor por um período
não inferior a três meses nas regiões abaixo e acima da cintura, e de ambos os
lados, além de dor localizada em 11 dos 18 tender points descritos adiante. Para
fechar o diagnóstico é preciso também haver o sono não reparador, sensação de
fadiga persistente e rigidez matinal. Pode ainda incluir cefaleia, irritação de
bexiga, disminorreia, extrema sensibilidade ao frio, síndrome do cólon
irritável, pernas inquietas, padrões indefinidos de parestesias e intolerância
a exercícios.
Os 18 tender
points (figura 01) se localizam nos seguintes locais :
·
Inserção muscular suboccipital;
·
Entre os forames transversos de C5 a C7;
·
No ponto médio da borda superior do trapézio
superior;
·
Na origem do músculo supraespinhal, logo
superior à espinha da escápula;
·
Na segunda junção costocondral;
·
Dois centímetros distais dos epicôndilos
laterais do cotovelo;
·
Nos quadrantes superiores externos das nádegas;
·
À altura do trocânter maior;
·
No coxim adiposo medial do joelho.
Lembrando que
todos esses nove pontos ocorrem bilateral e simetricamente, totalizando 18
tender points.
Estudos
indicam que rigidez matinal, distúrbios do sono e sensação de fadiga estão
presentes em 75% dos pacientes. O Estudo realizado por HAUN et al. menciona um
número 5% maior, além de afirmar que na presença de sintomas definidos não é
mandatória a presença de 11 pontos para se fechar o diagnóstico, e sim nove. Os
seguintes sintomas (Figura 02) são menos frequentes: palpitação, tontura, sensação de
inchaço, cefaleia crônica, depressão, irritabilidade, zumbido, epigastralgia,
dispneia, náuseas, dificuldade de deglutição, fenômeno de Raynaud e
disminorréia.
FIGURA 02: Sintomas de fibtomialgia. Disponívem em: http://clubedafibromialgia.blogspot.com.br/2010/09/sintomas.html. |
No início o
paciente pode apresentar sintomas subjetivos, tais como a parestesia,
dificuldade de concentração, tontura, lipotímia, perda de memória, ansiedade,
humor deprimido e irritabilidade. Isso leva a outros sinais que confundem com
outras patologias, tais como o aumento dos níveis tensionais, podendo confundir
com hipertensão sistêmica. Alguns exames podem então facilitar o diagnóstico,
mesmo que para a fibromialgia seja eminentemente clínico. Solicita-se a provas
de atividade inflamatória (PCR e VHS), dosagens de hormônios tireoidianos, avaliação
do metabolismo ósseo com calcitonina e paratormônio, potássio sérico, CPK,
fator reumatoide e anticorpo antinuclear. Mas é necessário lembrar que, assim
como afirma Góes em seu estudo sobre fibromialgia, exames laboratoriais não
podem incluir ou excluir o diagnóstico de fibromialgia.
O tratamento
pode ser feito com diversas classes de medicamentos. Pode ser utilizado um
antidepressivo tricíclico, como a amitriptilina 25 mg, com dose a ser ajustada
a cada caso. Assim pode-se restabelecer o humor e o sono, além de tratar a
dor. Os antidepressivos tricíclicos em
geral trazem melhora após duas semanas de uso.
Os inibidores
da receptação da serotonina também podem ser utilizados. Eles possuem a
vantagem de não induzirem a dependência, agem sobre o alívio da dor em média em
três semanas. Se o transtorno do sono for o sintoma mais forte, a trazadona
pode ser utilizada. Ele aumenta a porcentagem de sono profundo, reduzindo a
queixa de sono não-reparador ao inibir o receptor 5-HT2A. É apresentado em
doses de 50 e 100 mg. Como antidepressivo ele é utilizado na dose de 300 mg, o
que indica que para o tratamento da fibromialgia deva ser bem abaixo disso.
O alprazolan
é o medicamento mais utilizado nas fases iniciais. É da classe dos benzodiazepínicos.
Como psicotrópico é utilizado por via oral na dose de 0,25 a 0,5 mg por três
vezes ao dia, sendo absorvido pela mucosa estomacal e alcançando concentração
sérica máxima de uma a duas horas após a administração. Sua meia vida é de 11 a
15 horas, com uma ligação a proteínas plasmáticas em torno de 70 a 80%. Ele é
metabolizado no fígado a uma forma inativa, a alfa-hidroxialprazolam, que
também possui os mesmos efeitos, porém mais brandos. É lentamente metabolizada, contudo sua
excreção pela urina é eficaz. Uma de suas aplicações menos usuais, mas que
apresentam boas respostas é no tratamento da síndrome pré-menstrual, embora
nesses casos ele só deva ser utilizado na fase lútea, quando a liberação de
progesterona tende a incitar maiores efeitos psicológicos.
Os
benzodiazepínicos de maneira geral aumentam a quantidade de ácido
gama-aminobutírico, promovem a inibição de estímulos excitatórios ao cérebro e
aumentam a quantidade de serotonina. Isso promove relaxamento muscular, aliviando
os sintomas decorrentes dos tender points. Mas é importante saber que, para
todos esses medicamentos utilizados como psicotrópicos, aqui, são utilizados em
doses subterapeuticas.
A pregabalina
é um anticonvulsivante que demonstra boa resposta no tratamento da dor e dos
distúrbios do sono. A dose diária é de 450 mg. O comprimido é apresentado em
doses de 25mg, 50mg, 75mg, 100mg, 150mg, 200mg, 225mg e 300mg. É um ansiolítico análago ao ácido gama-aminobutírico,
que não atua nos receptores GABA-A ou B, mas bloqueia os canais de cálcio impedindo
a liberação de neurotransmissores excitatórios, a saber o glutamato, aspartato
e substância P, esta destacada na fisiopatologia da fibromialgia.
Para o tratamento
não farmacológico se deve concentrar primordialmente no principal fator
prevalente nos fibromialgicos, o sedentarismo. Os pacientes demonstram melhora
da dor, do condicionamento físico, e dos sintomas em geral. Mas deve-se se ater
que os exercícios são eminentemente aeróbicos e de alongamento. É comprovado
que exercícios aeróbicos melhoram tanto as condições de preparo cardiovascular,
como a sensibilidade à dor. Os exercícios devem ser seguidos sempre de
relaxamento e de educação postural.
Os resultados
acerca da acupuntura, nesses casos, são conflitantes, ao contrário de
massoterapia, que é claramente eficaz, possibilitando até a diminuição do uso
de analgésicos. Tem-se que essa terapia possua efeitos sobre a modulação supra-segmentar
da dor e sobre a secreção de opióides endógenos. Quanto aos distúrbios do sono é orientado que
o paciente suspenda bebidas cafeinadas, evite exercícios físicos à noite,
mantenha sempre a rotina do horário de se deitar, manter o quarto escuro e bem
ventilado, além da realização de rituais que sinalizem ao cérebro que o momento
é de descanso, como uma leitura ou uma oração.
QUESTÕES
PSICOSSOCIAIS DA FIBROMIALGIA
Os déficits
funcionais do paciente fibromialgico pode ser declarado como adequado ou não
adequado. Trata-se do comportamento do paciente no sentido de se adaptar às
novas exigências, trazidas pela doença. É adequada quando o paciente mantém
suas atividades diárias e se comporta no sentido de controlar a dor, procurando
tratamento farmacológico e não-farmacológico. É inadequado quando o paciente se
isola do convívio social e do trabalho, ou até mesmo utilizando excessivamente
o sistema de saúde, o que pode indicar uma evolução para transtorno psíquico. (RIBERTO,
2002).
Esse mesmo
autor afirma que restringir a avaliação do paciente apenas ao sistema
musculo-esquelético culmina em frustração do avaliador e do paciente, que
termina por sofrer novo encaminhamento devido ao não fechamento do diagnóstico.
Um sintoma
que diminui a qualidade de vida é a perda da qualidade de sono. Afflek (1996)
afirma que sono não restaurador culmina em dia com sintomas de dor
significativamente maiores, que é seguida por uma noite de sono não
restauradora, formando um ciclo vicioso. Essa má qualidade de sono foi
identificada em 99% dos pacientes avaliados em estudo realizado por Theadom et
al. (2007), demonstrando a significância do problema.
REFERÊNCIAS
ELTZ, Rodrigo Sanguinetti. Revisão bibliográfica
sobre síndrome da fibromialgia. Monografia apresentada ao curso de fisioterapia
da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade de Tuiuti-Pr.
Curitiba, 2005. (DESTAQUE)
FRAGA, Bianka Porto; et. al. Fribromialgia e disfunção
temporomandibular: uma revisão de literatura. Revista Sul-Americana de odontologia. v. 1. n. 8. p. 89-96. Jan/mar,
2011.
GUI, M.; et. al. Distúrbios do sono em pacientes com
fibromialgia. Neurobiologia. v. 73. n.
1. Jan/mar, 2010.
LOPES,
Antônio Carlos. Tratado de Clínica Médica. 2. ed. São Paulo: Rocca,
2011.
BRASIL. Pregabalina. Acessoria Jurídica/Advocacia Geral da
União. Nota técnica N° 50/2012. Mai, 2012. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2012/Dez/12/pregabalina(Lyrica%C2%AE).pdf.
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