O termo
toxinfecção alimentar abrange um quadro infeccioso tendo como entrada o trato
gastointestinal, causada por fungos, vírus e bactérias, além de suas
respectivas toxinas. Estima-se que ocorram 5.000 mortes por toxinfecções
alimentares todos os anos nos EUA, com 76 milhões de atendimentos e 325.000
internações. 62 milhões do total de casos não são de etiologia plenamente
conhecida, pois a falta da pesquisa ideal e a evolução autolimitada dificultam
a identificação do agente etiológico. Além disso, é provável que haja grande
subnotificação, pois os pacientes costumam procurar os serviços de saúde quase
sempre nos casos graves.
Deve-se ter
em mente que o diagnóstico da infecção alimentar é SEMPRE clínico. Os fatores que mais predispõem sua ocorrência são
as falhas nos sistemas de conservação e preparo, mudanças de hábitos
alimentares e substituição dos alimentos maternos pelo alimento processado. Um fato
que corrobora essa premissa é que 80% das infecções alimentares ocorrem fora do
domicilio.
A gravidade
dos quadros dependem da virulência dos agentes, inóluco da infecção e
fragilidade imunológica dos indivíduos. A maioria das toxinfecções alimentares
ocorrem por bactérias, e muitos dos casos com agentes diferentes manifestam
sintomas semelhantes, além de serem autolimitadas.
AGENTES MAIS COMUNS
CLOSTRIDIUM
BOTULINUM
Bactéria
anaeróbica, gran positiva que vive habitualmente no solo, possui a capacidade
de aumentar sua resistência ambiental por conta de esporulação e produz uma
toxina potente, a toxina botulínica. Geralmente as infecções estão relacionadas
com ingesta de vegetais, frutas e peixes mal conservados, além de alimentos
defumados, enlatados ou em conserva, cujo tratamento não elevou a temperatura o
bastante para destruir os esporos. A infecção é de início súbito com grave
tendência à letalidade.
A infecção se
passa em quatro fases: incubação, que vai da ingesta até 12
horas a três dias a depender da quantidade de toxina ingerida, sendo
assintomático; invasão dura de horas a um dia, ocorrendo sintomas gerais; estado,
resulta da agressão ao sistema nervoso gerando sintomas neurológicos, tais como
alterações oculares e distúrbios da fonação; período de convalescência,
indefinido a depender da gravidade da fase anterior.
FIGURA 01: inibição da fusão das vesículas contendo neurotransmissores. Disponível em: http://mynotes4usmle.tumblr.com/post/46935808600/clostridium-botulinum |
O problema da
toxina botulínica é que uma de suas 2 cadeias, a leve, tem a capacidade de
impedir a fusão das vesículas de acetilcolina com a membrana do neurônio
pré-sináptico. (figura 01) Sua dose letal para um homem é em média de 1/100 até 1/120. Essa
inibição é permanente e tem como resultado a flacidez muscular, ou paralisia
flácida, podendo levar o indivíduo á morte por insuficiência respiratória
devido à inibição da atividade diafragmática. Felizmente esse quadro é
antecedido de sintomas gastrointestinais, havendo um espaço de tempo ideal para
início do tratamento. Tais sintomas são diarreia, cólica, náuseas e vômitos, no
entanto, podem na realidade ser resposta de outros organismos presentes no
alimento concomitante ao clostridium. A respeito dos alimentos e prevenção da
contaminação, felizmente a toxina é termolábil e por isso um aquecimento de 65 °C
a 85 °C por 30 minutos, 10 minutos a 90° ou 5 minutos a 100 °C.
As
manifestações neurológicas são de início agudo, bilateral, descendente e com ausência
de febre, havendo ainda a dificuldade de engolir ou enxergar, ptose palpebral,
diplopia, visão turva, midríase com pupilas lentamente reagentes à luz,
disartria, disfonia e disfagia. Os exames para detectar o botulismo incluem
pesquisa da toxina botulínica nas fezes e no aspirado gástrico, além da
eletroneuromiografia, este detectando uma velocidade de condução normal, porém
com menor amplitude, devido ao menor número de acetilcolina nas fendas
sinápticas. Esse dado ajuda a diferenciar o botulismo de outras patologias,
como a sínrome de Guillain-Barré, miastenia gravis e poliomielite. O
diagnóstico diferencial pode ser feito em relação à salmonelose, mas essa é de
evolução súbita e prognostico favorável sem comprometimento neurológico.
Caso haja
suspeita de que o alimento contaminado seja a causa base dos quadros,
realiza-se a lavagem gástrica independentemente de se ter chegado a um
diagnóstico ou não, pois com isso restringe-se mais absorção de toxinas. Se o
diagnóstico é concluso utiliza-se a imunização passiva com imunoglobulina
equina anti-toxina, que apesar que cessar o avanço do problema, não consegue
reverter a paralisia já instalada. A dose é uma ampola ou 10 ml, endovenosa e
diluídas no soro em única dose.
SALMONELLA:
É outro
agente comum nas toxinfecções, e por sinal, vem aumentando em incidência em
todo o mundo. Em países desenvolvidos é a principal infecção alimentar. Pode
causar três doenças: febre tifoide, causada pela Salmonella
typhi; febre entérica, causada por Salmonella paratyphi; as enterocolites ou
salmoneloses, que são causadas pelos demais tipos. A temperatura ideal
para o crescimento desta bactéria é 37°C, mas esse crescimento nunca evolui com
esporulação e por isso acima de 55°C elas são destruídas rapidamente. Por isso,
indivíduos com preferências alimentares para alimentos mal passados ou mal
cozidos são especialmente suscetíveis a este tipo de infecção, principalmente
em se tratando de vísceras de animais e aves, assim como ovos contaminados usados
ingeridos como ingrediente, por exemplo da maionese. Consumo de água não tratada
e vegetais irrigados com águas contaminadas são de igual importância na ocorrência
dessas infecções. Outro meio importante de contaminação é por meio das mãos de
manipuladores de alimentos, pois o paciente tratado continua a eliminar as
bactérias por semanas ou anos.
A
Salmonella é amplamente distribuída na natureza, podendo sobreviver até por um
ano em determinados alimentos, tais como chocolates e pimenta do reino.
No entanto, o local de preferência é o intestino de animais, embora para a
Salmonella typhi e paratyphi, o homem seja o único hospedeiro. Os sintomas por
sua vez podem ser gerais, ou característicos da famosa febre tifoide. A intensidade
da salmonelose depende de qual dos 2.400 sorotipos está envolvido, idade,
condição imunológica do hospedeiro e perfil do alimento contaminado ingerido,
pois se o alimento é rico em gordura o lipídio serve de proteção contra o suco
gástrico. Fato a comprovar é a necessidade de apenas 10 células exemplares da
Salmonella typhi para desencadear sintomas. Para a Salmonella polluron é
necessário 10 à 11ª potencia.
A Salmonella,
no intestino, vai se prender à mucosa e migrar para os tecidos linfoides. A
reação inflamatória produz prostaglandinas ativadoras de AMP cíclico que comanda
a secreção de fluidos e determina a diarreia. Enquanto isso as bactérias migram
para o fígado e baço e continuam a se reproduzir, ajudadas não só pela
irrigação do local, mas também pelo fato da proximidade da temperatura corporal
com a temperatura ótima de crescimento. Desses locais elas podem então atingir
qualquer parte do corpo, enquanto produzem suas toxinas que são a gênese dos
sintomas. Esses englobam cólicas abdominais, febre, diarreia, calafrios, náuseas,
vômitos e cefaleia. Surgem após 12 a 36 horas após a contaminação e duram de um a quatro dias, embora a artrite
possa ser sentida de três a quatro semanas após o início dos sintomas. Os
sintomas ainda englobam prostração, dor muscular, síncope, agitação ou
sonolência.
O diagnostico
é feito por solicitação de provas sorológicas, realizadas com acurácia pelo
método ELISA e solicitação da coprocultura, que deve ser realizada entre duas a
cinco semanas de infecção. A hemocultura é indicada nas duas primeiras semanas
de infecção. A urocultura tem maior valor quando realizada na terceira semana.
A febre tifóide
é uma forma importante de samonelose caracterizada pela exacerbação dos
sintomas acima descritos, sendo causada pela Salmonela Typhi. Essa patologia é
caracterizada basicamente por mal estar, febre, dor abdominal, diarreia ou
obstipação intestinal, anorexia, manchas rosadas no tronco por conta de
acúmulos do bacilo, tosse seca e comprometimentos hepático, esplênicos e
neurológicos. Existem áreas difusas de necrose consequente à inflamação aguda
estimulada pela presença da salmonela, podendo atingir a camada muscular e evoluir
com perfuração e consequente peritonite, evento esse chegando a 2% dos casos.
Um fato que agrava tais eventos é quando o organismo tenta atacar essas bactérias
acaba por ceder-lhe local de proliferação, o interior do macrófago (figura 02) e nisso se segue até a
quarta semana, quando as ulcerações começam a ganhar granulações (tecidos
cicatriciais em fases iniciais) até a completa cicatrização. Se a perfuração
intestinal possibilita o extravasamento de fezes tem-se a peritonite fecal, a
mais grave manifestação da febre tifoide. É conveniente notar ainda a gravidade
da perfuração ainda por seu poder hemorrágico de leve a maciço.
FIGURA 02: Salmonella invadindo macrófagos. Disponível em: http://www.allposters.com.br/-sp/Salmonella-Typhi-Bacteria-Showing-their-Peritrichous-Flagella-a-Pathogen-for-Typhoid-Fever-posters_i9005164_.htm |
Após a
septicemia a salmonela pode ser encontrada no coração, rins, testículos, ouvidos,
pulmão, nervos periféricos, ossos ou articulações, gerando os sintomas citados
aqui, embora seguindo uma ordem lógica divididos em períodos: incubação,
variando de poucos dias a semanas; inicial, com aparecimento de febre
gradativamente mais alta com o passar dos dias, início da dor abdominal,
anorexia e cefaleia que é proporcional à febre; estado, na segunda a terceira
semana de infecção ocorre exacerbação dos sintomas com estabilização da febre
entre 39 e 40°, com prostração agravada para o torpor e delírio. Segue
a diarreia esverdeada e desidratação severa, demonstrada pelo estado
desidratado da pele e mucosas, olhos profundos e inexpressivos. Na pele surgem
manchas rosadas chamadas de reséolas tíficas, de 2 a 5 mm e
sensíveis à digitopressão. Caso surja taquicardia o quadro é caracterizado como
grave, pois significa presença de hemorragia importante; declínio, quando a
febre diminui, da mesma forma que a intensidade de todos os outros sintomas;
convalescença, quando o paciente se recupera das lesões secundárias, como a
atrofia muscular ela inatividade e queda de cabelo por conta da desnutrição.
FIGURA 03: Salmonella ao microscópio. |
ESCHERICHIA
COLI:
São bactérias
anaeróbicas facultativas que colonizam o intestino dos homens e animais. É responsável
por 25% dos casos de enteroinfecção, sendo a responsável pela diarreia do
viajante. Existem quatro tipos de E. coli: enterotoxigênica, enteropatogênica,
enterohemorrágica e enteroinvasiva. Dessas a diarreia do viajante é
causada pela enterotoxigênica. Essa infecção geralmente é autolimitada quando
transcorrido um período de cinco dias, exigindo apenas o suporte de líquidos e
eletrólitos, porém, algumas vezes faz-se necessário o uso de antibióticos. Os
sintomas são dor abdominal severa, diarreia líquida que evolui com presença de
sangue, com nenhuma ou pouca febre. A dor abdominal e febre pode ou não
preceder a diarreia. Os vômitos ocorrem em 50% dos pacientes com diarreia, e de
um a dois dias após o inicio dos sintomas as fezes ficam sanguinolentas.
O quadro pode evoluir com lesões renais importantes, sendo a justificativa o
fato dos rins possuírem receptores para as toxinas produzidas pela cepa
O157/H7, a mais perigosa. Essa toxina termina por se unir à subunidade 60s do
ribossomo e cancela a síntese proteica, o que acarreta morte celular. Mas antes
disso a bactéria já causa danos, pois ao se unir às células do intestino – os
enterócitos – causa uma desorganização do citoesqueleto, induzindo a uma reação
inflamatória já suficiente para causar a diarreia.
Fato
interessante a saber é que 10% dos pacientes evolui com síndrome renal urêmica
após 10 anos da infecção. Se a doença está em curso e o paciente evolui com
lesões renais, a probabilidade de morte é alta. Nos Estados unidos, por exemplo, estima-se que ocorram de
200 a 500 mortes por este motivo.
FIGURA 04: E. coli ao microscópio. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Escherichia_coli. |
TIPOS DE E.
COLI:
·
enteroinvasora: assim denominadas por terem a
capacidade de invadir o cólon e se difundir
pelas células próximas à porta de entrada. O resultado da presença dessas
bactérias no cólon é necrose de mucosa tanto pela reação inflamatória natural,
como pela toxina produzida por algumas cepas. Acomete predominantemente
crianças e adultos e costuma curar espontaneamente;
·
enterotoxigênica: como essa bactéria não invade
a mucosa intestinal não haverá presença de muco ou sangue nas fezes. Produz
duas toxinas termolábeis – a 100°C por 30 minutos – e duas toxinas
termoestáveis. Assim como na infecção por Salmonella, a toxina termolábil vai
levar a célula a um acúmulo de AMP cíclico, o que comanda diversas modificações
eletrolíticas nas células, resumidas na menor absorção de sódio e maior
excreção de cloro e bicarbonato, fazendo com que muito dos líquidos que
deveriam penetrar na mucosa intestinal não o façam, determinando assim a diarreia,
já que esse represamento de água vai excitar os movimentos peristálticos
intestinais. Dentre as toxinas termolábeis apenas a tipo LTI vai ser ativa no
homem, ocorrendo o mesmo com as termoestáveis, pois somente o tipo STa vai ser
de importância clínica. Essa última tem mecanismos distintos ao explicado
anteriormente, mas no final a causa da diarreia vai ser a mesma, que é um
distúrbio eletrolítico gerando grande represamento de líquido na luz
intestinal;
·
enteropatogênica clássica: esse tipo está ligado à
diarreia em crianças menores de um ano. É o tipo mais frequente acometendo
em torno de 30% das crianças menores de um ano em São Paulo, porém levando a
crises de diarreia em crianças não amamentadas por leite materno. Esse tipo se
fixa intimamente na mucosa e induz a uma resposta inflamatória indutora do
aumento de cálcio intracelular, ativação de proteinases que destroem a actina
próximo aos locais de fixação dos parasitas, o que leva ao apagamento das microvilosidades,
pois necessitam dos microtúbulos para se sustentar. A diarreia aqui não é bem
esclarecida;
·
enterro-hemorrágica: desde 1983, quando uma cepa
dessa bactéria – a O157:H7 – foi encontrada em hamburgers mal cozidos num
restaurante dos Estados Unidos, é considerada responsável por 20.000 casos de
toxinfecções alimentares anuais, com 250 evoluídos para óbito. Essa denominação
se dá por conta do potencial de evolução para colite hemorrágica e síndrome hemolítica
urêmica, de grande potencial para a letalidade. Os sintomas da colite
hemorrágica são dor abdominal severa, diarreia liquida inicialmente e depois
sanguinolenta, podendo haver ou não febre. Dentro de 1 a 2 dias de sintomas a
diarréia e a dor abdominal se intensificam. A síndrome hemolítica urêmica se
caracteriza por anemia hemolítica, trombocitopenia e insuficiência renal que
induz à anúria, edema generalizado e palidez, ocorrendo quando as toxinas
produzidas pela E. coli entram em contato com os rins. Nesses casos, para
algumas crianças, o quadro somente é resolvido com transplante renal.
Em
geral para todos os tipos de E. coli, as vias de transmissão são águas
contaminadas, carne e leite, além dos derivados desses. Há casos de
identificação dessa cepa em hambúrgueres e miúdos de frango, e também em
vegetais por infecção cruzada através das mãos de trabalhadores no papel de
veículo. Os períodos de incubação desses tipos são: enterotoxigênica 10-12
horas, enteropatogênica 36 horas, enterro-hemorrágica 3 a 4 dias e
enteroinvasiva 11 horas.
FIGURA 05: E. coli ao microscópio de varredura. disponível em: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/01/protecao-antes-e-depois-da-infeccao |
BACILLUS
CEREUS
É uma
bactéria gran-positiva contaminante de alimentos em todo o mundo, que pode
produzir dois tipos de toxinas: causadora de diarreia (diarreica e instável) e
causadora de vômitos (emética e estável). Caso a bactéria contaminante produza a
toxina emética os sintomas aparecerão num período de 1 a 6 horas, e caso a
produção seja de toxina diarreica esse período de incubação ficará entre 6 a 24
horas. Os alimentos contenedores desses microrganismos são os crus, secos e
processados, mantidos por muito tempo em temperatura ambiente, sendo cozidos em
temperatura insuficiente para destruir o patógeno. Um exemplo clássico da
contaminação de alimentos pelos produtores da toxina emética é o arroz, embora
massas, batatas e queijos tenham sido implicados em menor incidência.
O problema
dessa infecção é ser inespecífica, como muitas outras enteroinfecções. Os
sintomas relacionados à toxina diarreica se assemelham à infecção por
Clostridium prefrigens, enquanto que os sintomas relacionados à toxina emética
(vômitos, náuseas e dores abdominais) se assemelham à infecção por Staphylococcus
aureus. Portanto a análise dos alimentos nos casos de surto é fundamental para
se identificar o agente.
O diagnóstico
é feito com a pesquisa de agente patogênico nos alimentos e vômito, ou
coprocultura, lembrando que nos alimentos o diagnóstico só é positivo se houver
uma carga acima de 100.000 por grama de alimento, fezes ou vômito. A rapidez
com que a toxina emética produz sintomas também serve como prova diagnóstica,
embora não isolada.
ESTAFILOCOCOS
A infecção
por esta bactéria se faz geralmente pela própria microbiota do indivíduo,
ocorrendo por contato direto (impetigo e erisipela), infecção de corrente
sanguínea ou mediada por toxinas, essas envolvidas nas infecções alimentares. Essa
bactéria é responsável por 4,5% do último tipo citado. Existem quatro tipos
envolvidos: S. aureus, hyicius, chromogenes e intermedius, embora apenas a S. aureus
esteja envolvido em 98% do total de casos de infecções alimentares, geralmente
envolvendo a ingesta de ovos, carne, leite e derivados. A esse respeito
o grande problema é sua capacidade de conviver em ambientes hostis, como em
alimentos com quantidades de água aquém do que necessita outros organismos, ou
quando a concentração de sódio vai até 15%, podendo produzir toxinas até quando
a concentração de sódio é 10%. Isso é o mesmo que afirmar que até mesmo
alimentos curados podem conter a bactéria em estado infectivo. Ela só precisa
de quinze minutos de incubação para produzir sintomas e, além disso, sua toxina
não é facilmente degradada pela temperatura, resistindo de 10 a 46 °C.
A patogenia
condicionada pela presença do Staphylococcus spp. se dá devido às suas toxinas,
que podem ser: toxinas pirogênicas (indutoras de febre), esfoliativa (causadoras da
síndrome da pele escaldada) (foto 06), toxina 1 (indutora do choque), outras toxinas
inespecíficas e por fim a enterotoxina. Assim como a bactéria é
resistente, a enterotoxina produzida por ela também é, por isso sua passagem
pelo estômago não vai inativa-la, com exceção de apenas um tipo de toxina, a
EEB, inativada caso o PH esteja bem próximo de 2, contudo não é a toxina mais
envolvida nos casos de intoxicação alimentar.
Os sintomas
são comuns a outros agentes: náuseas, vômitos, cólicas abdominais e
diarreia, sintomas esses podendo surgir após apenas 15 minutos de incubação,
embora geralmente o início dos sintomas ocorrem após 1 a 6 horas após ingesta
do alimento contaminado. O vômito é causado porque as toxinas
envolvidas atravessam facilmente as mucosas, principalmente do estômago e
intestino delgado anterior, estimulando as áreas responsáveis pelo reflexo
emético. A carga de bactérias necessária é de apenas 100/ng, porém o quadro
também é autolimitado, geralmente se resolvendo em 24 a 48 horas sem a
necessidade de antibioticoterapia.
A facilidade
de contaminação pelo Staphylococcus se dá pelos locais de melhor adaptação, que
são a pele e as mucosas, e dessas últimas a narina anterior é o local
preferencial para o Staphylococcus aureus, que como dito antes, é o principal
responsável pelas intoxicações alimentares.
Outra grande
importância relacionada a essas bactérias são as infecções nosocomiais ou
hospitalares, quando a capacidade de se proteger dos antibióticos lhe confere
multirresistência e por isso uma grande problema de saúde pública. Inclusive as
toxinas esfoliativas, toxina 1 e a enterotoxina são classificadas como
superantígenos. Essa classificação se dá pela capacidade dessas toxinas se
acoplarem ao complexo de histocompatibilidade II (MHC II) sem necessidade de
tratamento intracelular prévio, o que induz à liberação rápida e de grande
quantidade de citocinas, podendo acarretar em coagulação intravascular
disseminada e choque cardiovascular. Segundo Antônio Carlos Lopes, as
enterotoxinas são os mais potentes mitógenos para linfócitos T.
FOTO 06: Síndrome da pele escaldada, característica de infecção estafilocócica. Disponível em: http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=S%C3%ADndrome+Da+Pele+Escaldada+Estafiloc%C3%B3cica&lang=3 |
TRATAMENTO
Quando a
infecção envolve a salmonella não se faz necessária a utilização de antibióticos,
sob o risco de agravar o quadro. A exceção é quando a infecção acomete os ossos
e os rins, além dos casos de febre tifoide. Nesses casos pode ser
utilizado o clorafenicol 50 mg/Kg/dia divididas em quatro doses, ou
sulfametoxazol+trimetropina 800/160 mg e ainda amoxicilina 3g ao dia por 14
dias, estas duas últimas tidas como segunda escolha. A ceftraxona
também possui boa resposta, sendo utilizada na dose de 500 mg via oral de 12/12
horas. Quando a antibioticoterapia não é requerida, o tratamento se baseia no
suporte hídrico oral vasto.
Para o
tratamento com o estaphylococcus a prescrição de floratil é louvável, haja vista
serem maus competidores. Ademais, assim como o Bacillus cereus, o
tratamento é sintomático e terapia intravenosa é necessária quando a perda
hídrica exigir.
Na diarreia
do viajante, causada pela E. coli enterotoxigênica, pode ser
utilizado também a sulfametoxazol+trimetoprim na dose de 800/160 mg, tomadas duas vezes ao
dia. 100 mg de doxiciclina duas vezes ao dias por cinco dias também
é eficaz, mas não nos casos de resistência. Daí pode-se utilizar uma quinolona,
como o ciprofloxacino 500 mg duas vezes ao dia, ou norfloxacino 400 mg uma vez
ao dia, ambos por cinco dias.
É necessário
que se preste muita atenção ao uso de antibióticos, fazendo do seu uso sempre
uma segunda alternativa, a menos que se tenha segurança do diagnostico. A
justificativa é que na utilização de antibióticos não indicados, acabaria se
destruindo cepas de bactérias não patogênicas ao ser humano, mas que estariam
em competição com as patogênicas. Caso as não patogênicas fossem destruídas, as
patogênicas estariam livres para crescer ainda mais rápido.
REFERÊNCIAS
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Roberto. Tratado de infectologia. 2.
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(DESTAQUE)
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LIMA, Rosa Maria; DIAS, Joge Amil. Gastroenterite aguda. Nascer e Crescer: revista do hospital de
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BARRETO, Januara Rocha; SILVA, Luciana Rodrigues. Intoxicações
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CARDOSO, Tathiana Gonçalves; CARVALHO, Vânia Maria de.
Toxinfecção por Salmonella spp. Revista Instituição de Ciência e Saúde.
v. 24. n. 2. p: 95-101. 2006.
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