ANATOMIA DAS MENINGES
A grosso modo as meninges são três, assim organizadas
de fora para dentro: dura-mater, aracnoide e pia-mater.
A dura-mater recobre o encéfalo e é constituída de duas
camadas: a perióstea, que se confunde com o periósteo dos ossos do crânio; e
dura-máter meníngea, camada interna que se estende até o sacro sendo perfurada
pelos nervos espinhais nesse trajeto. Segue então a aracnóide, que também possui
duas camadas, uma em contato com a dura-máter e a outra, mais abaixo,
constituída de trabéculas ocupando o espaço subaracnoide e entrando em contato
com a pia-máter. Na porção superior, prolongamento que vai até a dura-máter, as
vilosidades aracnoides tem a função de transportar o LCR do espaço subaracnoide
até o sistema vascular. Por fim, na porção mais interna há a pia-máter, que ao
contrário da aracnóide é altamente vascularizada.
A dura-máter possui alguns prolongamentos, tais como a
foice do cérebro, membrana divisória do cérebro nos dois hemisférios; o
tentório ou tenda do cerebelo, que isola o cerebelo dos hemisférios cerebrais,
servindo de fixação para a foice do cérebro, o que lhe dá a aparência de tenda;
a foice do cerebelo é uma invaginação vertical situada abaxo da tenda do
cerebelo; o diafragma da sela recobre a hipófise na fossa hipofisária deixando
passagem do infundíbulo e das veias hipofisárias.
AGENTES CAUSAIS
Meningite faz relação a processo
inflamatório nas meninges e líquido cefalorraquidiano. De maneira geral pode
ser causada por agentes químicos, virais ou bacterianos, esse último
apresentando maior tendência ao agravamento. Pode ser classificada em meningite
aguda ou crônica. Quando causada por vírus será denominada asséptica, uma
denominação equivocada já que não se trata de agente inerte.
As faixas etárias são
especialmente susceptíveis a diferentes tipos de patógenos: nos recém-nascidos
a infecção é mais comum pela Escherichia coli e Estreptococcus do tipo B. Entre
adolescentes e adultos jovens é a Neisseria meningitidis – mortalidade entre 5
e 10% , e entre os idosos é a Streptococcus pneumoniae – mortalidade entre 15 e
30%, e a Listeria monocytogenes. O Staphylococcus aureus e Pseudomonas
aeruginosa são osprincipais agentes causadores de meningites pós-punção lombar
e a Neisseria meningitidis é responsável por 60% dos casos em crianças. Já as
meningites virais apresentam uma incidência de 55 a 70% dos casos de
meningites, e destas, 80 a 90% são causadas por enterovírus.
Algumas condições que facilitam a
ocorrência de meningite são o alcoolismo, eplenectomia, hipogamaglobulinemia e
o trauma cranioencefálico.
A meningite aguda acomete a
pia-máter, aracnoide ou o espaço subaracnóideo, que contém o LCR. Associado a
esse líquido, as bactérias infectantes poderão se disseminar por toda a
superfície do cérebro, casando inflamação difusa.
PATOGENIA
A infecção geralmente se inicia
com a contaminação oral, seguida de invasão dos vasos, disseminação pela
corrente sanguínea, alcance da barreira hematoencefálica e chegada ao líquor. Apesar
da proximidade é rara a instalação da meningite após otite média, infecção de
seios paranasais, mastoide ou osteomielite de crânio.
Após uma a duas horas de
instalação já começa a liberação de citocinas, que por sua estimulação
prolongada – pois no LCR não há número significativo de imunoglobulinas ou
proteínas do complemento – vai induzir a liberação de selectinas e degranulação
de neutrófilos terminando por aumentar a permeabilidade da barreira
hematoencefálica. Causará também rápido exsudato inflamatório com proliferação
de fibroblastos na base do crânio ocasionando obstrução dos locais de absorção
de LCR. Essa é a causa base para a hidrocefalia e edema cerebral. Quando a
abertura dos vasos se estende para o parênquima cerebral, intensificada pelo
óxido nítrico, instala-se também edema no órgão. Sendo assim, o grande vilão
não é a atividade bacteriana, e sim a reação inflamatória que se segue, pois
com a lise destes microrganismos é liberado o lipopolissacarídeo das
gran-negativas, ou ácido teicoico e peptidoglicano das gran-positivas,
induzindo a liberação de TNF alfa e interleucina um, que são citocinas
potentes.
O exsudato inflamatório
extravasado para o espaço subaracnóideo de tão concentrado contribui para a
obstrução da absorção do líquor, sendo fator relevante na gênese da hidrocefalia
e edema cerebral do tipo intersticial.
Os efeitos causados pelas
alterações cerebrais serão divididos em três: 1° - síndrome da hipertensão
intracraniana: cefaleia intensa, náuseas, vômito e confusão mental; 2° - síndrome
toxêmica: além dos sinais da toxemia, tais como hipertensão, nessa síndrome
pode haver febre alta, mal-estar e agitação; 3° - síndrome de irritação
meníngea: cursando com rigidez nucal, sinal de Kernig, sinal de desconforto
lombar e sinal de Brudzinski.
O sinal de Kernig citado é
pesquisado com o paciente em decúbito dorsal com a coxa elevada em 90 graus em
relação ao abdome, e a perna fletida também em 90 graus em relação à coxa. O
sinal é positivo quando o paciente refere dor com a extensão da perna. O sinal
de Brudzinski é positivo quando o paciente, em decúbito dorsal, tem os joelhos
fletidos espontaneamente quando o pesquisador flete seu pescoço.
É importante citar que a evolução
da meningite em crianças agrava de maneira súbita, respaldando o caráter
liberal para as punções lombares desses pacientes. Em crianças pode haver
aumento de fontanelas pela elevação da PIC, febre, prostração, vômitos e
convulsão. Em adultos pode ocorrer tremores, convulsões, hipoacusia,
transtornos pupilares e nistagmos. As púrpuras são sinais de sepse e constituem
sinais de alerta para grave comprometimento de múltiplos órgãos. O aumento da
pressão intracraniana rebaixa o nível de consciência, com pupilas dilatadas,
bradicardia, hipotensão e arritmias.
A autorregulação de pressão
intracraniana também é perdida. Normalmente quando a tensão arterial cai,
ocorre vasodilatação encefálica no intuito de manter a circulação e perfusão
tecidual do encéfalo, ocorrendo o contrário quando a tensão arterial aumenta.
Na meningite quando há uma queda da pressão arterial média, por exemplo, o
paciente evolui com pontos de isquemia cerebral devido à extensão da
hipoperfusão.
O quadro de meningite causada por
vírus serão denominadas de meningites assépticas. Da mesma forma será causada
pela resposta inflamatória à presença de vírus na leptomeninge ou espaço
subaracnóideo, no entanto a gravidade será menor. Os sintomas aqui são gerais,
tais como febre, cefaleia, fotofobia, mialgia, náuseas, vômitos, rigidez nucal
e sinais de Brudzinski e Kernig.
A agente causal mais comum da
meningite viral, o enterovírus, tem estrita relação com as condições sociais e
densidade populacional. No Brasil, por exemplo, em São Joaquim da Barra, em São
Paulo, houve um surto de meningite viral, com faixa etária acometida de menor
de cinco a nove anos. Os sintomas foram vômitos, febre e rigidez de nuca. De
todos os pacientes 75% frequentavam creches, fato comprovatório da influência
de aglomerações como fator de peso para a disseminação da meningite.
A defesa contra esse tipo de
vírus se dá essencialmente por anticorpos e por conta disso, pessoas de menor
idade como recém-nascidos são especialmente expostos. O contágio se dá por via
fecal-oral e por aerossóis, adentrando o epitélio intestinal ou não. Se forem
restritos ao intestino irão ocasionar diarreias. Se não, chegam às placas de
Peyer, provocando sintomas inespecíficos, depois se disseminam pela corrente
sanguínea e alcança diversos órgãos incluindo o cérebro.
DIAGNÓSTICO
Hemocultura pode ser realizada
juntamente com pesquisa do líquor, que pode oferecer diagnóstico falso-negativo
em alguns casos em estágios iniciais. O estudo do LCR se baseia na modificação
da concentração e aumento de estruturas de defesa, podendo possuir aspecto
purulento.
A contagem de células nesse
líquor, em estágios não patológicos chega a 4 células por milímetro cúbico. Já
nos casos de meningite esse número aumenta para 500 com predomínio de
neutrófilos, acrescido de hiperproteinorraquia, hipoglicorraquia – na meningite bacteriana – e aumento do
lactato.
A pesquisa de antígenos por
aglutinação pelo látex é um exame rápido, tendo inclusive uma especificidade
quase absoluta para meningite causada pelo Estreptococcus pneomoniae, agente
causal mais frequente em idosos. O exame microbiológico realizado a partir de
cultura advinda do líquor apresenta positividade em 80% dos casos, no entanto,
é bastante deficiente quando se trata de meningite por Listeria monocytogenes.
Esse mesmo método de gran tem ótima resposta quando realizado a partir de
biopsias das lesões petequiais, sendo inclusive, de resultados rápidos e
verdadeiro-positivos.
O diagnóstico de meningites
virais pode ainda ser pesquisado por análise clínica juntamente com dados
epidemiológicos, exame do líquor por pesquisa de anticorpos, cultura de células,
PCR e Western blot. Duas punções lombares podem ser realizadas com espaço de 12
a 24 horas, esperando-se encontrar na primeira punção uma predominância de
polimorfonucleares, e na segunda encontra-se um predomínio de macrófagos e
linfócitos.
REFERÊNCIAS
MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F. Anatomia
Orientada para a Clínica. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
LOPES, Antônio Carlos. Tratado de
Clínica Médica. 2. ed. São Paulo: Rocca, 2011.
GARTNER, Leslie P.; HIATT, James L. Tratado de histologia: em cores. 2. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003.
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