Febre pode suscitar ideia de moda. Algo que se cria naturalmente, com
início de certa maneira obscuro, um fato ocorrendo por acaso, um flagra, um
plágio e então se cria uma tendência. As tendências, efêmeras, desaparecem da
mesma maneira como surgem. Nos deparamos com elas sem querer nas lojas, nos
programas de televisão, nas músicas e até nas profissões. E é desta última que
quero falar. A febre da enfermagem. Trata-se de uma tendência forte de
enfermeiros migrarem para a medicina. Porém, nesse caso, há uma evolução bem
palpável. No ano de 2004, o salário base de um enfermeiro no nosso estado era
aproximadamente R$ 4.500. Hoje, oito anos depois, o mesmo geralmente entremeia
R$ 2.000 e R$ 3.000, a maioria no primeiro patamar. Numa das três cidades em
que trabalhei, o edital para o concurso a ser realizado em 2011 previa um
período de trabalho de 40 horas com salário abaixo dos R$ 2.000. Na mesma
cidade, um projeto aprovado pelo Estado em 2010, elaborado por uma enfermeira, rendeu à cidade um financiamento de R$ 180.000,00. Esse não reconhecimento se
passa sob as barbas do órgão regulador da enfermagem, o COFEN/CORENS que parece
se preocupar mais em disseminar novos cursos como se fossem vírus, fornecer
congressos que apenas alunos abastados podem pagar e cogitar projetos como o
que permitia proferir ao técnico de enfermagem o título de terceiro grau, caso
realizassem mais dois anos de estudos, sem necessidade de prestar vestibular –
não desvalorizando essa classe, que é a base de todo o hospital, mas não
concordando com a obtenção da graduação de grau superior sem o crivo de uma
prova classificatória. Fala-se de exame de ordem como na advocacia, porém, com
a chance de diminuir o ingresso das centenas de novos profissionais de
enfermagem formados todos os anos, esse rumor tende a continuar como está.
Caso alguém queira notar, pela lei da oferta e procura, quanto mais
profissionais num mercado não excedente, menores os salários, porém, maior o
número de profissionais engordando os cofres do respectivo órgão
regulador com as anuidades. E foi assim que num período de oito anos, mesmo com
o aumento do custo de vida, o salário para um enfermeiro da rede básica retraiu
em média 40%. Os erros de enfermagem, como os propalados pela imprensa, são
frutos desse decréscimo, pois obrigam o funcionário a ter dois ou até três
empregos, ceifando em muito sua capacidade de atenção e assim de evitar a
imprudência, não importa quão competente seja.
Então a febre antes falada me contaminou, e hoje, recém aprovado no
curso de medicina, passo alguns minutos abatido pelo sentimento de traição,
logo suprimido pela sensação de que o órgão regulador da minha atual profissão
enfatiza o enfermeiro sempre no início do ano, período de envio de carnê de
anuidade. Esse é enviado em residência com toda a comodidade. Ainda pode-se
aceitar que o problema seja apenas falta de divulgação de ações de proteção à
enfermagem, que o COFEN esteja trabalhando em prol da profissão, mas que não
vem tendo resultados positivos, ou ainda a falta de políticos que
enxerguem a classe como uma fonte de votos. Por isso convoco o tão glorioso
COFEN/CORENS para fazer saber suas ações, pois de longe, sua postura mais se
assemelha à feira de venda de permissão para novos cursos.
O que se tem a comemorar é o surgimento de uma classe de profissionais
altamente formados: os médicos enfermeiros, ou enfermeiros médicos, já que
possuem saberes que englobam o funcionamento do sistema de saúde, a humanização
e a lógica da fisiopatologia humana. Quem acaba ganhando é a medicina. Então
que fique para o CREMEB, o papel de agradecer ao COFEN por pré-prepararem
alguns dos seus representantes, pois os enfermeiros não sabem pelo que fazer.
JAIRO LEÃO 03/01/2012
4 comentários:
Acredito que a enfermagem nos acrescenta, pois somos humanos e vemos o outro não como um outro mas como espelho de nós mesmos. Então... rumo à nossa nova profissão, enfermeiros médicos com muito orgulho.
Nossa, suas informações foram fortes e incrivelmente fieis a realidade!
Sucesso,amigo!
Concordo com a crítica e difícil realidade exposta pelo colega. diariamente me pergunto o por que do descaso dos nossos conselhos com a nossa profissão tão bonita e recompensatória pelo simples fato do cuidar humanizado e o reconhecimento de alguns clientes frente aos nossos atos.o estímulo para o trabalho é pautado nesse reconhecimento. ademais: conselhos, gestores... nos desestimulam a cada dia com salários indignos e sobrecarga de trabalho. contudo sigo cuidando daqueles que precisam da minha atenção e cuidado. Jairo, parabéns e sucesso sempre.
Obrigado Marcela. Percebo que compartilho com seus sentimentos. Que pena.
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