ANEMIA APLÁSICA
É um termo
que se refere a um conjunto de eventos que direcionam a medula ao estado de
supressão ou desaparecimento de células tronco mielóides. A incidência não
discrimina sexo, mas há pico quando nos referimos à idade, o primeiro dos 10
aos 25 anos e o segundo nas pessoas acima de 60 anos, havendo uma incidência
geral de 2 a 4 casos por milhão de habitantes. Pessoas que se expõe a radiação
ionizante e trabalhadores em lavoura com uso de agrotóxicos são especialmente
propensos.
A maioria das
causas (70%) da aplasia é desconhecida, mas sabe-se da existência de etiologias
hereditárias e adquiridas. Na maioria dos casos esclarecidos a gênese é adquirida, e as
substâncias que mais frequentemente relacionadas são: clorafenicol, benzeno,
agentes antimetabólicos, estreptomicina, clorpromazina, inseticidas, infecções
virais como o parvovíirus B19 e até o Epstein-Barr, dentre outros. As causas
congênitas são a anemia de Fanconi e a disceratose congênita. Exposição à radiação
também pode levar a anemia aplásica.
Muitas vezes
essa patologia se manifesta após um quadro de infecção viral, mais comum pelo
vírus da hepatite – não se relaciona aqui os vírus A, B, C e G. No entanto, esse
mecanismo não está esclarecido. A anemia de
Fanconi é uma condição rara decorrente de uma mutação genética que promove
defeito na transcrição de proteínas reparadoras de DNA. Um dos genes envolvidos
é o mesmo para o câncer de mama, o BCRA (1 e 2). Predomina em pacientes de 6 a
9 anos, manifestando geralmente com baixa estatura, anormalidades ósseas, hipopigmentação
de pele, hipogonadismo, malformações cardíacas e gastriointestinais, terminando
com insuficiência medular aos 10 anos. As deformações ósseas geralmente
envolvem polegares e rádio do mesmo membro.
Quando a
anemia é causada por drogas, a justificativa é que são agressores diretos dos
precursores mielóides, o que induz à sensibilização de linfócitos T contra e
consequente produção de interferon-gama, IL-2 e TNF, ambos impedindo o desenvolvimento
de células-tronco. Isso é comprovado pelo fato da melhor resposta no
transplante de medula após imunossupressão dirigida às células T através das
ciclosporinas. Outro efeito do interferon-gama e do TNF é o aumento da
expressão do receptor Fas nas células tronco e do seu ligante, desencadeando a
apoptose. Quando a anemia é pura para as células vermelhas, os principais
responsáveis são o lúpus eritematoso, na evolução da gravidez, nos tumores
tímicos, nas doenças linfoproliferativas e nas infecções por parvovírus B19,
que penetra na medula e desencadeia a reação imune pelos linfócitos T. É
necessário levar em conta também a suscetibilidade genética, pois na maioria
dos casos a aplasia surge tardiamente após o uso das drogas.
Os agentes
químicos mais envolvidos são o benzeno e os hidrocarbonetos aromáticos, que
após exposição crônica pelo indivíduo são gerados metabólitos de forte
potencial inibitório sobre os precursores hematopoiéticos. Interessante que o
benzeno em si tem efeito contrário, induzindo ao aumento de células sanguíneas,
o que justifica a hipercelularidade em determinadas fases, com a pancitopenia
não sendo o achado mais frequente na anemia aplásica causada pelo benzeno. Em vez
disso o achado mais comum é a anemia isolada seguida de trombocitopenia,
podendo ocorrer reticulocitose, leucocitose, linfocitopenia, eosinofilia e
presença de elementos imaturos no sangue.
A
hemoglobinúria paroxística noturna leva a aplasia medular por conta de um super
requerimento que leva ao colapso da mesma. Nessa patologia as hemácias são
produzidas com uma deficiência nas proteínas de ancoramento nas membranas. Um
evento hemolítico acaba ocorrendo durante a acidose do sono e por isso a
primeira urina do dia possui uma coloração vermelha. O defeito se dirige a
alterações em determinadas proteínas, como a CD55, que detém ação inibidora das
proteínas do complemento. Sem ela a C3 se adere à membrana da hemácia e a
sinaliza para a destruição pelas células de defesa. Essa hemácia então é
reposta pelo organismo, numa atividade de contínua demanda, determinando a
evolução para a tríade: hemólise, trombose e falência medular.
A medula
óssea nessa anemia fica hipocelular, com queda importante no número de células
tronco. O tecido medular vai
gradativamente sendo substituído por adiposo e estroma fibroso, caracterizando
a medula seca. Existe uma tríade que grosseiramente caracteriza esse quadro que
é anemia, neutropenia e trombocitopenia.
SINTOMAS E DIAGNÓSTICO
O início dos
sintomas é variável, podendo ser dispneia, fraqueza progressiva e palidez,
assim como púrpuras (petéquias e equimoses), que são o anúncio da
trombocitopenia. Nos casos envolvendo infecções ocorre a granulocitopenia,
podendo ocorrer febre, calafrios e prostração. Se houver hepatoesplenomegalia
provavelmente não se trata de anemia aplásica. Ao contrário, na aplasia
medular a reticulocitopenia é regra. Sangramentos
são os primeiros sintomas, mesmo sem indicar anemia grave, geralmente
ocorrendo gengivorragias à higiene dental. Pode ocorrer também epistaxe. Quando ocorre em crianças e adultos jovens com anormalidades esqueléticas, baixa
estatura e manchas café-com leite, pode-se pensar em anemia
de Fanconi. Sangramento maciço não uma queixa comum, mas mulheres
jovens podem se queixar de aumento do fluxo menstrual.
Toda essa
descrição pode se iniciar de modo insidioso com queixas de astenia, fraqueza, dispneia e zumbido. Caso haja febre associada a leucopenia, tem-se um
sinal de alarme, e quanto aos dados no hemograma, o diagnóstico pode
ser considerado na existência de dois dos seguintes sinais: hemoglobina abaixo de 10 g/dl, contagem
de plaquetas inferior a 50.000 e
contagem de neutrófilos abaixo de 1.500.
Caso os neutrófilos estejam abaixo de 500 e plaquetas abaixo de 20.000 a anemia
é considerada grave. Os pacientes geralmente cursam com neutropenia e
trombocitopenia, mas a anemia é normocrômica e normocítica,
associado a reticulocitopenia absoluta.
Arrumando:
anemia moderada : 1- Hb < 10g/dl; 2- plaquetas < 50.000; 3- neutrófilos
< 1.500, lembrando que para o diagnóstico em si é necessário haver dois
desses critérios. Anemia grave com dois dos seguintes achados: 1- plaquetas < 20.000; 2- neutrófilos < 500; 3-
reticulócitos abaixo de 20.000. Anemia muito grave: neutrófilos abaixo de 200,
mesmo isoladamente.
EXAMES LABORATORIAIS PARA O DIAGNÓSTICO
· Hemograma completo com
reticulócitos;
· Função renal e hepática;
· Mielograma e Biópsia de Medula
óssea;
· Eletroforese de hemoglobina
(Hb fetal pode estar aumentada nas aplasias constitucionais);
· Ferro sérico, ferritina,
saturação de transferrina;
· Dosagem de vitamina B12 e
folato;
· Imunofenotipagem para HPN (se
não disponível, Teste de HAM e Sacarose);
· Sorologias para infecções
virais;
· Coombs direto;
· Tipagem HLA caso candidato ao
transplante de medula óssea;
· Estudo citogenético;
· RX de tórax e esqueleto caso
suspeita de Anemia de Fanconi;
· Ultra-sonografia abdominal
total;
· ß –HCG;
· Provas de função reumática;
· Hormônios tireoidianos.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Hepatoesplenomegalia
pode ser qualquer coisa menos anemia aplásica. Magacariócitos atípicos, com
único núcleo e corpo pequeno fala a favor de mielodisplasia. Aplasia pura de
células vermelhas e presença de blastos favorecem a aplasia medular. Na anemia
aplásica a celularidade da medula está entre 25 e 30%, e na leucemia a presença
de blastos com hipercelularidade é bem característico.
TRATAMENTO
Casos de
anemia moderada o tratamento é de suporte, com transfusão de concentrado de
hemácias e de plaquetas conforme quadro clínico. Se a quantidade de sangue infundida for significativa ou para casos de uso de antibióticos, está indicada a
terapia imunossupressora. O sangue poderá ser transfundido quando a
contagem plaquetária estiver abaixo de 10.000. Já para anemias graves está indicado o transplante
de células tronco alogênicas ou
terapia imunossupressora combinada (ciclosporina 10 a 15 mg/Kg/dia por duas
semanas (diminue para sete e continua com 7 mg por semanas + imunoglobulina
antitimócito + prednisolona). O tempo de tratamento é indefinido. Em casos de
sepse poderão ser utilizados fatores estimuladores de colônias
Pacientes que
sofrem transfusões tem mais chances de rejeição de transplante de medula óssea.
A chances de aceitação ente irmãos é de 30%.
REFERÊNCIA
COTRAN,
R.S; Kumar V; COLLINS, T. Robbins. Bases
Patológicas das Doenças: Patologia. ed. 7. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2005.
LOPES, Antônio Carlos. Tratado
de Clínica Médica. 2. ed. São Paulo: Rocca, 2009.
2 comentários:
Gostei, porém não sei porque Hepatoesplenomegalia não pode ser anemia aplástica dd jeito nenhum. Se puderem explicar seria ótimo. Obrigadi
Gostei, porém não sei porque Hepatoesplenomegalia não pode ser anemia aplástica dd jeito nenhum. Se puderem explicar seria ótimo. Obrigadi
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