quarta-feira, 12 de novembro de 2014

UMA "PRÉVIA" SOBRE PLACENTA PRÉVIA



Na forma de blastocisto, depois de adentrar na cavidade uterina o embrião passa em média 24 horas para se implantar no tecido endometrial. O local mais comum disso ocorrer é no corpo uterino. Isso ocorre porque depois do blastocisto se dividir em citotrofoblasto – células internas uninucleadas – e sinciciotrofoblato – células externas multinucleadas, esta última passa a exercer interações com o epitélio do endométrio. Essas ligações ocorrem com citocinas e integrinas na superfície endometrial e, por exemplo, receptores do fator inibidor de leucemia no sinciciotrofoblasto.

Como a invasão trofoblástica adentra no endométrio à procura de vasos sanguíneos para suprirem o feto, as porções do corpo e fundo uterino serão mais predispostas a uma gestação viável, em relação à áreas próximas ao colo.

A partir daí caso a placenta se insira ou a sua migração se restrinja entre o fundo e corpo uterino, denomina-se um placentação de inserção tópica. Fala-se posição e não apenas inserção porque a placenta sofre uma pseudo-migração na velocidade de 1,6 a 2,6 mm/semana resultante do crescimento assimétrico de suas porções inferiores e superiores. Quando a inserção ou migração até a 28ª semana de gestação se encontra nas porções inferiores tem-se a placentação de inserção heterotópica. Caso ocorra fora da cavidade uterina a chamada de ectópica. 


PLACENTA PRÉVIA

Placenta prévia se constitui no posicionamento placentário nas porções inferiores do útero após a 28ª semana. Pode ser entendido como a posição da placenta sobre o orifício cervical interno, cobrindo-o total ou parcialmente, ou estando a menos de 5 centímetros do orifício, condição denominada de placenta marginal.

Pode ser classificada como total, quando está bem centralizada sobre o orifício cervical, parcial quando recobre parcialmente a área do orifício, marginal quando a placenta está a menos de 05 centímetros do orifício, e placenta baixa ou lateral, que é quando está nos segmentos inferiores e sem contato com o orifício interno. Nesse último caso Zugaib afirma que a placenta costuma estar sobre o local onde é realizada a incisão da cesariana e caso haja placenta lateral na 20ª semana, não haverá placenta prévia ao termo.


FATORES DE RISCO

A incidência de placenta prévia é de 0,5 a 1% das gestações. Para a idade materna entre 20 e 29 anos as chance de ocorrência é de 0,03%, mas para idade acima de 40 anos as chances são de 0,25%. Em multíparas as chances podem atingir 5% e quando a gestação é múltipla as chances são 40% maior em relação à gestação de único feto. Fatores de risco são cesarianas prévias, tabagismo, uso de cocaína e residir em altas altitudes. No caso do tabagismo ocorre que como o fumo diminui o aporte sanguíneo para o feto e sendo essa uma das funções da placenta, tal estrutura tende a aumentar de tamanho como forma compensatória, e nessa hipertrofia há possibilidade da placenta alcançar o orifício interno cervical.


DIAGNÓSTICO

 Primeira forma de pesquisa é clínica. Os sinais e sintomas são sangramento vaginal se motivo aparente e indolor, geralmente a partir do fim do segundo trimestre. O aspecto do sangramento é vermelho-vivo. Esse sangramento costumar aumentar progressivamente, mas o útero continua indolor à palpação em todas as fases do problema. As contrações uterinas somente aumentam após o episódio de sangramento e o exame especular costuma demonstrar colo de aspecto inalterado, tampão mucoso sanguinolento e coágulos na cavidade vaginal. Apesar disso, quase 10% das mulheres são assintomáticas, principalmente aquelas de placentação marginal.

33% das gestantes apresentam sangramento antes da 30ª semana de gestação, constituindo um grupo de maior risco de prematuridade, mortalidade fetal e necessidade de transfusões sanguíneas.
Para fechar o diagnóstico é necessária a realização de ultrassonografia, sendo esta o padrão ouro. O tipo de USG realizada deve ser transvaginal, tendo vantagens em relação a abdominal por conta de: a abdominal necessita de enchimento da bexiga, que pode aproximar as paredes anteriores e posteriores da região próxima ao colo, podendo mimetizar a placenta prévia; a distância entre o transdutor e a área pesquisada é menor na transvaginal.

A ressonância nuclear magnética complementa os casos quando existem dúvidas na USG. Tem a vantagem de não sofrer a interferência do crânio fetal.

CONDUTA

Ao primeiro sinal de sangramento vaginal a mulher deve ser prontamente internada para monitoramento da mãe e feto. Deve realizar acesso calibroso para infusão de volume e manter o débito urinário ao menos de 30 ml/hora. Realiza-se a ultrassonografia para confirmação da posição placentária. Se o sangramento estiver mantido o hemograma deve ser solicitado a cada 4 horas para avaliação de hematócrito e hemoglobina.

A partir daí existem dois tipos de condutas: expectante e ativa. A expectante se baseia no parto normal e pode ser postergada por até quatro semanas pelo fato de 75% dos sangramentos serem autolimitados. Se a placenta é de inserção lateral ou marginal e o feto já esteja a termo, o parto normal pode ser esperado desde que haja monitorização. Caso as contrações estiverem frequentes deve-se lançar mão de tocólise porque o sangramento irrita a musculatura uterina que se contrai e aumenta o sangramento criando um círculo vicioso. Se o sangramento não parar ou seja notada a queda dos batimentos fetais o parto normal deve ser induzido. Caso o feto esteja entre 24 e 30 semanas deve ser prescrito corticoide para mãe a fim de acelerar o amadurecimento pulmonar fetal.

De qualquer forma se existe um diagnóstico ultrassonográfico de placenta prévia e a gestante não apresenta sangramento ela pode ficar em domicílio em repouso relativo, abstinência total sexual e de elevação de peso.


A conduta ativa é para sangramento intenso, vitalidade fetal comprometida, maturidade fetal comprovada, inserção total ou parcial ou idade gestacional acima de 37 semanas, pois quanto maior a idade maior o risco de sangramentos. Então se o feto alcançou 37 semanas na presença de placenta prévia centrototal ou centroparcial a cesária eletiva está indicada. Caso o feto esteja morto a cesariana também estará indicada.


REFERÊNCIAS

ZUGAIB, Marcelo. Obstetrícia. 2 ed. Barueri. Manole, 2012.

Desenvolvimento humano. Disponível em: http://www.ufrgs.br/livrodeembrio/ppts/5.desenvhumano.pdf

Nenhum comentário: