EPIDEMIOLOGIA DA ESQUISTOSSOMOSE
A partir de cinco semanas o homem
já pode disseminar os miracídios. Ocorre em 52 países, 19 Estados no Brasil com
acometimento principal na Bahia. Estima-se que 10% da população brasileira
esteja infectada que a prevalência mundial seja de 207 milhões de pessoas, distribuídas
entre 74 países.
Onde há deficiência de saneamento
básico, haverá grandes chances da esquistossomose se tornar endêmica. No verão,
período de calor, ocorre a concomitância entre uma maior quantidade de pessoas
a se banhar – maior incidência entre 15 e 20 anos – em concentrações de águas
contaminadas, e uma maior agitação das cercarias devido à luz e ao calor, contribuindo
para a estabilidade dos índices.
PARASITA
O parasita relacionado é o
Schistosoma, cuja espécie presente no Brasil é a mansoni, ocorre também nas
Antilhas e na África. No corpo humano tem preferência pelas veias mesentéricas,
próximas ao plexo hemorroidário, onde a disponibilidade de nutrientes é grande.
A esquistossomose é conhecida no Brasil também como barriga-d’água, xistose ou
mal-do-caramujo. As formas envolvidas no ciclo do Schistosoma mansoni são o
verme adulto, cercária, ovo, miracídio e esporocisto, sendo o miracídio a forma
infectante do caramujo Bhiomphalaria – no caso do Brasil.
Cada miracídio pode gerar de 100
a 300 mil cercarias, levando à conclusão de que qualquer ambiente aquático
contaminado por esses seres, será detentor de grade potencial infectante, sendo
essa característica especialmente quando a luminosidade do dia for maior.
CICLO E PATOGENIA
No homem o Schistosoma mansoni
amadurece no sistema porta hepático e então migra para a veia mesentérica onde
irá depositar seus ovos. Serão depositados 400 ovos/dia, com metade ganhando
meio externo através de atividades relacionadas à corrosão da submucosa pelo
parasita, permitindo a passagem para a luz intestinal e exterioração junto com o
bolo fecal. O acasalamento que dará origem a esses ovos ocorrerá em torno do
35° dia e aqueles ovos que não conseguirem se exteriorizar acabarão morrendo,
pois o sistema imune exerce atividade eficaz sobre eles.
- Os ovos do Schistosoma mansoni ganham a luz intestinal pelos seguintes fatores:
- Reação inflamatória, cuja atividade é a mais ativa;
- Proteases produzidas pelo miracídio que lhe abrem caminho;
- Diminuição da espessura dos vasos devido à presença do casal de esquistossômulos na sua luz;
·
Descamação do epitélio intestinal causada pela
passagem do bolo fecal, diminuindo o trajeto a ser percorrido pelos ovos.
Os miracídios que ganharem o meio
externo vão se aproximar do caramujo pelos produtos quimiotáticos por eles produzidos.
São os miraxones. Esses produtos são captados pelos terebatorium, quem tem
efeito de ventosa, mas também solta enzimas que possibilitam a penetração nos
tecidos do caramujo. Quando o miracídio se acopla ao caramujo começa e se
movimentar intensamente até a penetração. Nos tecidos o miracídio vai se
transformar num saco de células germinativas que irão ser liberadas para o meio
na forma de cercarias a partir de estímulos como a luz e temperatura.
Com a liberação das cercárias,
estas irão contaminar humanos através da penetração ativa, geralmente pelos pés
e pernas, independente de solução de continuidade. Essa atividade ocorre
principalmente entre 10 e 16 horas por conta da luminosidade e temperatura, que
deixam as cercárias mais ativas.
A patologia transcorre envolta da
reação granulomatosa contra os ovos após a migração e aderência de linfócitos
ao seu redor e secreção de substâncias quimiotáticas que atraem mais macrófagos para o local. Como a indução dos
macrófagos acaba sendo maior que a devida, segue-se lesões também no organismo
hospedeiro.
Na fase aguda o granuloma é maior e pode chegar até 100 vezes o tamanho dos ovos. Essa resposta imune não consegue agir contra esses helmintos maduros, mas provém razoável proteção contra reinfecções. Os motivos para isso são: a) maior número de camadas, pois o verme jovem é trilaminar e o verme adulto, além da capacidade intrínseca de regeneração das lâminas é heptalaminar, o que o torna muito mais resistente; b)síntese de antígenos envolvidos em mimetismo celular, e por isso o sistema imune não identifica esses parasitas como corpos estranhos – no-self; c) a resposta imune envolve a ativação de linfócitos TH2 secretores de IL-4, IL-5 e IL-10, que determinam a ativação de mastócitos e plasmócitos, produtores de IgE e por isso mediadores de respostas rápidas; d) produção de IgA em resposta à Glutationa-S-transferase do parasita, responsável por diminuir a fecundidade das fêmeas. Esse último mecanismo é menos ativos, porém há casos em que indivíduos de áreas endêmicas contaminados apresentem parasitológico de fezes negativo para Schistosoma mansoni, devido à pequena carga parasitária ocasionada pela secreção de IgA. Estudos atuais ainda têm indicado a atividade das IL-4 e 10, como inibidoras de outras citocinas que induziriam uma resposta inflamatória – macrofágica – de efeito deletério para o organismo.
Na fase aguda o granuloma é maior e pode chegar até 100 vezes o tamanho dos ovos. Essa resposta imune não consegue agir contra esses helmintos maduros, mas provém razoável proteção contra reinfecções. Os motivos para isso são: a) maior número de camadas, pois o verme jovem é trilaminar e o verme adulto, além da capacidade intrínseca de regeneração das lâminas é heptalaminar, o que o torna muito mais resistente; b)síntese de antígenos envolvidos em mimetismo celular, e por isso o sistema imune não identifica esses parasitas como corpos estranhos – no-self; c) a resposta imune envolve a ativação de linfócitos TH2 secretores de IL-4, IL-5 e IL-10, que determinam a ativação de mastócitos e plasmócitos, produtores de IgE e por isso mediadores de respostas rápidas; d) produção de IgA em resposta à Glutationa-S-transferase do parasita, responsável por diminuir a fecundidade das fêmeas. Esse último mecanismo é menos ativos, porém há casos em que indivíduos de áreas endêmicas contaminados apresentem parasitológico de fezes negativo para Schistosoma mansoni, devido à pequena carga parasitária ocasionada pela secreção de IgA. Estudos atuais ainda têm indicado a atividade das IL-4 e 10, como inibidoras de outras citocinas que induziriam uma resposta inflamatória – macrofágica – de efeito deletério para o organismo.
A atividade imune contra o Schistosoma
mansoni forma imunocomplexos agressores contra o glomérulo, podendo ocasionar
lesões graves, semelhantes às ocorridas nas estreptococcias. Esses imunocomplexos
sofrem duas principais influências: a carga parasitária e a competência do
organismo na produção de anticorpos. Tudo começa com a dermatite cercariana
ocasionada pela entrada da cercaria através da pele, que se caracteriza por
sensação urticariforme, edema, eritema, pápula, pequenas pústulas e dor. Três dias
depois as cercárias alcançam os pulmões. Na segunda semana já estão no sistema
porta-hepático ganhando de tamanho e amadurecendo, para após, migrar para as
veias mesentéricas. Os vermes que morrem durante esse processo causam grande
resposta inflamatória e por isso grandes lesões. Lesões também são causados
pelos vermes ativos, ao esfoliar os tecidos para consumir 2,5 mg de ferro por
dia. Se a carga de miracídios é grande, suas enzimas, destrutivas de mucosa
para ganhar a luz intestinal, vão causar lesões ulcerativas. Aqueles que morrem
vão ser arrastados e se depositam no fígado com consequente reação
inflamatória.
ESQUISTOSSOMOSE AGUDA OU TOXÊMICA
O estado aguda também é
subdividido. Na fase pré-postural 10 a 35 dias após a infecção aparecerão os
sintomas, embora não em todos os pacientes. Esses sintomas são mal-estar, dores
musculares, tosse, febre e hepatomegalia discreta. A fase aguda ocorre
geralmente no 50° dia e vai até o 120° dia, ocorre por conta da disseminação
dos ovos pela parede intestina, onde causa áreas de necrose, e no fígado, onde
ocasionará granulomas, caracterizando a forma toxêmica. Os sintomas desta grau
são emagrecimento, febre, diarreia, fenômenos alérgicos, hepatoesplenomegalia
discreta e eosinofilia. Apresentará também eosinofilia, aumento de globulinas e
pequena modificação das transaminases ALT e AST. A evolução da patogenia decae
na cronificação da doença, com o granuloma, apesar de deletério, funcionando
como fator de proteção, pois em indivíduos imunosuprimidos a disseminação dos
ovos é maior, assim como consequente área de necrose devido às enzimas
produzidas pelo miracídio.
Essa fase divide-se em: dermatite
cercariana que dura aproximadamente cinco dias e após esse período surge a
febre de Kataiama, caracterizada pelas manifestações gerais.
ESQUISTOSSOMOSE CRÔNICA
Inicia a partir do sexto mês. Cursa
com diarreia mucossanguinolenta, tenesmo, necrose de alças levando a diminuição
do peristaltismo e por isso constipação. O sangue nas fezes é devido às lesões
ocasionadas pelas enzimas dos miracídios no epitélio da luz intestinal ao serem
arrastados pelas fezes. Apesar das lesões serem mínimas, pela quantidade de
miracídios o sangramento será visível.
A lesão hepática ocorrerá pela
deposição dos ovos que não atravessaram para a luz do intestino. Eles se prendem
no sistema porta causando inúmeras lesões granulomatosas que obstruirão tais
vasos e causarão a hipertensão portal, que é a gênese para as seguintes
manifestações: no baço ocorrerá congestão do ramo esplênico, hiperplasia do
tecido e das células do sistema fagocitário mononuclear; formação e circulação
colateral ao redor dos vasos portais, umbigo, região inguinal e esôfago na
tentativa de compensar os vasos obstruídos do fígado; ascite.
Os ovos também podem se soltar e
se instalar nos pulmões. Os granulomas nessa região terão duas consequências:
dificulta a pequena circulação obrigando o coração a trabalhar mais para
oxigenar os tecidos pulmonares; formação de circulação colateral que facilita a
disseminação dos ovos para os demais órgãos, inclusive no sistema nervoso
central.
Existe uma classificação que
divide as manifestações crônicas da seguinte forma: tipo 1 – é a forma
intestinal; tipo 2 – surgimento das fibroses de Symmers no fígado; tipo 3 – fase
hepatoesplenica compensada pelo início da formação da circulação colateral;
tipo 4 – é a forma hepatoesplênica descompensada, apresentando as manifestações
mais graves, tais como hepatoesplenomegalia avantajada, varizes esofágicas,
hematêmese e anemia acentuada.
A esquistossomose pode ser diagnosticada
com a solicitação do parasitológico de fezes em três amostra, de preferência. A
anamnese pode dar direcionamentos fáceis para os pacientes residentes em área
endêmicas, porém faz-se mais complicada quando isso não acontece. O histórico
de vida em seus diversos aspectos pode nortear um diagnóstico relativamente
fácil. A dermatite cercariana pode ser confundida, por exemplo, como rubéola ou
sarampo, ou ainda com reações alérgicas cutâneas de origem química. A fase
aguda, ou toxêmica, deve ser diferenciada da doença de Chagas, amebíase, febre
tifoide, dentre outras.
TRATAMENTO
O tratamento deve atingir
diretamente os sintomas: contra a dermatite são utilizados anti-histamínicos.
Na fase aguda é necessária boa hidratação, antitérmicos, analgésicos e
antiespasmódicos. O tratamento
direcionado é realizado com praziquantel (600 mg), em dose única de 50 mg/Kg
por via oral no adulto, e na criança a dose de 60 mg/Kg fracionadas em duas
doses. A dose no adulto também pode ser fracionada com intervalo de quatro a
doze horas. É importante que não seja utilizado em gestante. Pode ser usado
também o Oxaminique (250mg) com dose
única no adulto de 15 mg/Kg em dose única após a última refeição do dia, e na
criança a dose de 20 mg/Kg em dose única uma hora após refeição (de acordo com o ministério da saúde).
REFERÊNCIAS
NEVES, David Pereira. Parasitologia Humana. 11 ed. São Paulo:
Atheneu, 2004;
VITORINO, Roger Rodrigo et. al.
Esquistossomose mansônica: diagnóstico, tratamento, epidemiologia, profilaxia e
controle. Revista Brasileira de clínica
médica. Jan-fev. p. 39-45. São Paulo, 2012;
PODEUS, Lucina Cavalcanti et. al.
A ocorrência das formas aguda e crônica da esquistossomose mansônica no Brasil
no período de 1997 a 2006: uma revisão de literatura. Revista Epidemiologia
Serviço e Saúde. Jul-set 2008. p. 163-175. Brasília, 2008;
VALENÇA, Patrícia Lima Falcão.
Esquistossomose mansônica humana: influência da IL-10 no fenótipo celular do
granuloma in vitro. Tese de doutorado. Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro,
2000.
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