NO BRASIL A
ASMA ACOMETE 5 A 10% DA POPULAÇÃO TOTAL. Ocorrem anualmente mais de 350.000
internações nos hospitais brasileiros, sendo a quarta maior causa de
internações pelo SUS.
A questão
toda é um estado de hiperesponsividade da musculatura lisa à inflamação por
presença de componentes virais (80% dos casos), bacterianos e químicos. Quando
é viral o paciente apresenta alguns sintomas gerais, como dor de garganta e
coriza, que dura poucos dias, mas com piora progressiva do quadro asmático. Os
agentes virais mais comuns são rinovírus, influenza e vírus sincicial
respiratório. As bactérias mais relacionadas são a micobacteriun pneumoniae e
Clostridium pneumoniae. Mudanças climáticas também podem deflagrar a crise,
assim como estresse emocional, exercícios físicos e medicações tais como o AAS
e betabloqueadores não seletivos.
O paciente
apresenta níveis séricos aumentados e sustentados de IgE. Daí quando o paciente
entra em contato com o alérgeno primeiramente ocorre uma resposta precoce, com
a qual o quadro é autolimitado em metade dos pacientes. Na outra metade há uma
resposta tardia ocorrida três a doze horas após a primeira resposta. Nas duas
respostas há ativação de mastócitos, que vão liberar mais IgE, e linfócitos T
que aumentarão a permeabilidade vascular.
QUARO CLÍNICO
Existe uma
tríade da asma: dispneia, opressão torácica e sibilância, com ao menos um desses
sintomas ocorrendo em 90% dos pacientes. É necessário se atentar à diferença da
dispneia e da opressão torácica da asma ser distinta dos mesmos sinais
ocorridos nos cardiopatas, pois são descritos com dificuldade de jogar ar para
dentro dos pulmões. Isso se justifica pela obstrução aérea que nos casos graves
pode ser tamanha, que o sibilo desaparece, ficando a diminuição dos murmúrios
vesiculares. Quando os sibilos estão presentes eles costumam ser bilaterais.
O diagnóstico
é clínico e exames complementares devem ser solicitados na suspeita de associação
com outras condições, tais como pneumonia, pneumotórax e derrame pleural. Já a
oximetria de pulso deve ser acompanhada continuamente para que se esteja ciente
da evolução do quadro em tempo hábil para as devidas intervenções. Nos
pacientes asmáticos a saturação de oxigênio costuma estar abaixo de 90%. Gasometria
arterial também é muito importante, pois se PaCO2 menor que 42 mmHg tem grande
potencial para gravidade e se menor que 45 mmHg já se tem indicação de
internação. Nessa condição é recomendado solicitar eletrólitos quando o
paciente faz alta dose de corticoides, pois o fármaco retira cálcio dos ossos e
com isso desequilibra o nível sérico de outros eletrólitos como o potássio. ECG
é útil quando há suspeita de DPOC em pacientes acima de 50 anos. Se houver
expectoração amarelada não se pode esquecer do hemograma completo.
TRATAMENTO
Mesmo que a
presença de alérgenos seja baseada no contato com agentes bacterianos a
antibioticoterapia não é recomendada para o tratamento da crise asmática, pois
80% dos casos o agente é viral. A primeira via de tratamento para a crise de
asma é o beta 2 agonista, de preferência o fenoterol e mais preferencialmente
ainda o salbutamol.
Os beta
agonistas se baseiam na presença dos receptores beta adrenérgicos, 70% do tipo
2, estando na musculatura lisa, nas células de defesa, nos epitélios, glândulas
e fibroblastos. Nas paredes alveolares estão os Beta do tipo 1. Os beta
agonistas se ligam a receptores específicos na musculatura lisa circular das
vias aéreas e comanda a liberação de AMPc e com isso a modificação da forma da
proteína-quinase A que comandará liberação de cálcio livre do interior da
célula para dento de compartimentos no retículo plasmático e outras organelas.
A conformação modificada da proteína-quinase A reduz a interação da actina com
a miosina e aumenta a entrada de potássio na célula deixando-a polarizada e
relaxada.
Como ação
secundária os beta 2 agonistas inibem a secreção de leucotrienos e histamina pelos mastócitos e com isso também
diminuem a permeabilidade vascular. Ou seja, possui ação anti-inflamatória.
Outras atividades adicionais são a estimulação da produção de surfactante pelo
peneumócito tipo II, estimulação da atividade mucociliar e em menor intensidade
inibe a ativação dos receptores colinérgicos.
O fenoterol é
uma boa opção ao lado do salbutamol. A dose é a mesma para os dois, 10 a 20 gotas. O benefício é
adicionado com o uso sequencial, por isso deve ser feito em três inalações com
espaços de 15 a
20 minutos, com três inalações na primeira hora, quando o paciente deve ser
reavaliado para administração adicional. Por ser hidrofílico o uso da inalação
junto com 5 ml de solução fisiológica acelera a absorção do medicamento. As
contra-indicações são estenose aórtica subvalvar, taquiarritmias, cardiopatias
obstrutivas hipertrófica e hipersensibilidade à formulação. Para pacientes
propensos os efeitos adversos que podem ocorrer são taquicardias, agitação,
sudorese, cefaleia, secura de boca, edema de membros inferiores em pacientes com
ICC e por fim fraqueza muscular. Existe apresentação do fenoterol em bomba
aerossol, mas o uso contínuo dificulta a recuperação nos momentos de crise.
Existem duas
fases de absorção: 30% tem um tempo de meia vida de 11 minutos e 70% tem tempo
de meia vida de 2 horas. Inicia-se o uso com 10 a 20 gotas em espaço de 15 a 20
minutos e reavaliação após a primeira hora. Depois administra-se uma dose a
cada hora a depender da resposta do paciente. Não existem restrições para
pacientes acima de 65 anos, mas assim como os demais beta agonistas ocorre
depleção de potássio, então deve-se tomar cuidado. Os efeitos do fenoterol
ocorrem também no coração causando taquicardias por causa da seletividade
relativa, para os receptores beta 1.
O salbutamol
oferece iguais ou melhores resultados que o fenoterol, inclusive sendo
preferido segundo o livro de emergências clínicas da USP (2013). Está na dose
de 0,4 mg/ml. A dose e as recomendações de reavaliação do paciente são as
mesmas.
Junto do beta
2 agonista tem-se melhores resultados com o uso concomitante de um
anticolinérgico. Mas para seu uso é importante saber que a função do sistema
parassimpático é realizada por meio do nervo vago ao descarregar acetilcolilna
nas placas motoras da via aérea. O resultado é manutenção do tônus muscular
brônquico, secreção das células epiteliais, aumento da circulação e
recrutamento de células inflamatórias. A maioria das fibras do vago estão nas
grandes vias.
Por inibir o
recrutamento de células o anticolinérgico também agirá como anti-inflamatório,
somando a mesma ação ocorrida com os beta-agonistas. Agindo na diminuição do
tônus brônquico, adiciona um benefício para a redução do número de internamentos
quando utilizado junto com o fenoterol ou salbutamol. Isso ocorre
principalmente nos idosos, os quais a resposta aos beta agonistas decaem com a
idade. Também tem melhor resposta nos pacientes com pressão final expiratória
abaixo de 40% ou quando a asma é induzida por betabloqueadores não seletivos.
Ou seja, quanto pior a condição melhor o efeito. Como o efeito é sobre os
brônquios médios e abre passagem para a propagação do fenoterol na periferia
pulmonar.
O exemplar
mais utilizado é o ipratrópio. Sua ação é apenas a nível das vias aéreas e se
concentra na manutenção dos níveis de GTP, pois sua quebra em GMPc após
ativação dos receptores muscarínicos eleva as concentrações citosólicas de
cálcio com efeito de aumento do tônus muscular. Isso indica que a ligação da
acetilcolina com o receptor muscarínico é mantida, mas seu efeito é cancelado a
nível intracelular. Como a ligação às proteínas plasmáticas é apenas de 20% os
efeitos se iniciam em cerca de trinta segundos do início da administração, apesar
de não ser eficaz a esse tempo. 50% da resposta adequada ocorre dentro de três
a cinco minutos, com pico de ação máxima após 90 a 120 minutos. A duração do
efeito é de 6 horas e como há mínima absorção os efeitos colaterais serão
reduzidos. É uma medicação muito segura, cuja doses letal é extremamente acima
da dose terapêutica. Estudos também provaram não haver perigo para na gestação.
Devem ser utilizadas 20 a 40 gotas.
O formoterol
é 1.000 vezes mais seletivo para receptor beta 2 que o beta 1, sendo seletivos
puros em doses terapêuticas. O contato do fármaco ocorre pelo receptor beta,
mas também há absorção pela membrana plasmática, ao qual também serve de
reservatório, justificando o fato do início da ação ser sempre de 05 minutos,
mas a duração do efeito ser dose dependente. Como o fármaco não é lipofílico o
depósito na membrana plasmática vai estar facilitado.
ATENÇÃO: CORTICOIDES
Pronto! O uso
do fenoterol e do ipratrópio tem a intenção de tirar o paciente da crise. Relambrando
da fisiopatologia, que envolve efeito inflamatório, infere-se que seu cancelando
também cancela o broncoespasmo. O tratamento com corticoides deve ser feito por
05 a 14 dias, preferencialmente com prednisona 40 a 60 mg ao dia via oral (o
comprimido é apresentado na dose de 20 mg). No dia deve ser prescrito hidrocortisona
200 a 300 mg EV no momento da crise e 100 mg de 6/6horas até melhora, ou até
alcance de 800 mg no dia. Outra opção é metilprednisona 40 mg EV 6/6 horas não
devendo ultrapassar 160 mg no dia.
Para a alta
pode-se prescrever corticoide spray apenas para os momentos de crise. A escolha
pode ser o clenil ou diproprionato de beclometasona.
As metilxantinas não estão recomendadas. A aminofilina,
por exemplo, tem índice terapêutico muito pequeno e seus efeitos colaterais são
perigosos. De qualquer forma, como medida salvadora é utilizada na dose de 240
a 480 mg a correr num período mínimo de 20 minutos.
Caso haja
como auferir o volume expiratório final, caso abaixo de 30%, ou de 60% após a
primeira hora de terapêutica de emergência e falta de resposta à teraupeutica
incial pode-se utilizar o sulfato de magnésio. A dose é de 1,2 a 2,0 mg a
correr por no mínimo 20 minutos. Nesse esquema não foram identificados efeitos
colaterais significativos.
Por último há
intubação endotraqueal, realizada quando se nota tendência a parada
cardiorrespiratória. O paciente cuja manobra extrema é necessária deve ser
sedado com propofol, seguido de succinilcolina, pois a resposta à ventilação
mecânica é rápida. Antecedente à intubação deve-se ventilar o paciente com
dispositivo válvula-máscara para se alcançar a saturação de 100%, instalar
acesso venoso de grosso calibre, deixar preparado materiais de suporte
(aspirador, cânula com caff testado e laringoscópio).
REFERÊNCIAS
LOPES, Antônio Carlos. Tratado de Clínica Médica. 2. ed. São
Paulo: Rocca, 2009.
Martins, Herlon Saraiva et al. Emergências clínicas da USP. 8. ed.
Barueri, São Paulo: Manole, 2013.
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