GOTA
FIGURA 01: IMAGEM DO TOFO GOTOSO EM DEDO
Doença
advinda da superprodução de ácido úrico ou da pequena excreção renal em relação
a uma produção normal – como ocorre na maioria dos casos – e tendo como
consequência uma reação inflamatória dolorosa secundária à formação de cristais
de ácido úrico em articulações diversas. É um transtorno na metabolização das
purinas, nesse caso com consequente acúmulo em articulações e indução de
eventos inflamatórios que acarretarão em dores de intensidades variáveis.
Ocorre mais em homens entre a terceira e quarta décadas de vida.
O excesso de
ácido úrico é assim classificado quando na urina de 24 horas em paciente com
dieta de restrição de purinas, alcança um nível de 600 mg. Já o termo gota é
dado quando existem sintomas decorrentes desse problema.
Pode ser
primária quando ocorre por eventos endógenos ou secundária quando induzido por
causa externas. As causas externas podem ser o ingesta de álcool ou usos de
diuréticos, principalmente os tiazídicos, pois ambos competem pelos sítios de
excreção de ácido úrico no rim. No caso do álcool, a própria metabolização com
formação de acido lático irá facilitar a cristalização de ácido úrico. Isso
embasa a recomendação da ingesta hídrica durante o tratamento, pois quanto mais
ácida a urina, maiores as chances de formação de cristais de ácido úrico na via
renal. Outra questão em relação ao álcool é que ele estimula os receptores PAH, localizados no túbulo renal, com função de absorção do ácido úrico. Salicilatos e etembutol podem ocasionar aumento do ácido úrico. Já
hipouricemiantes em geral podem deflagrar a crise dolorosa por modificar de
maneira rápida as concentrações de ácido úrico no sangue. As patologias que
podem causar gota são as linfo e mieloproliferativas, mieloma múltiplo, anemia
hemolítica, policitemia vera e psoríase.
O quadro
clínico ocorre com dor nas articulações. Em 90% dos casos o início é
monoarticular, sendo mais afetada a metatarsofalangiana. A articulação mais
frequentemente atingida é a do hálux, mas a primeiras geralmente são o tornozelo,
calcâneo joelho, punho, dedos das mãos e cotovelo. As dores podem iniciar
abruptamente, não raro durante o sono. Após algumas horas a articulação afetada
ganha sinais flogísticos, como vermelhidão, calor, edema e dor, esta inclusive
ao tato, com o paciente não suportando sequer a deposição do lençol sobre o
local. A dor pode desaparecer após algumas horas ou durar até dois dias. Quando
ocorre melhora da crise a pele sobre a articulação acometida passa a descamar. Nessas
mesmas articulações acometidas surge uma tumefação nítida de tamanhos diversos
denominada de tofo gotoso.
FIG 03 FREQUÊNCIA DAS ARTICULAÇÕES ACOMETIDAS PELO ACÚMULO DE ÁCIDO ÚRICO.
A gota é um
estado ocorrido a partir do aparecimento das crises de dor, o que reflete a
reação inflamatória articular, égide da fisiopatologia da doença. O diagnóstico
é fechado com a presença dos tofos gotosos e com a visualização dos cristais de
ácido úrico à observação através de microscópio de luz polarizada. A sinóvia
coletada possui uma aparência esbranquiçada, como um giz diluído em água. As
alterações laboratoriais são leucocitose, VHS e PCR aumentados e edema
articular nos exames radiológicos. O tratamento clássico pode ser realizado com
uricosúricos – como a narcaricina, com a colchicina ou o alopurinol.
TRATAMENTO
Dentro do
tratamento da gota não é suficiente apenas rebaixar a uremia, pois um grave
problema em potencial é aumentar o contato dos rins com quantidades excessivas
de ácido úrico, o que levaria o paciente à condição de nefropatia gotosa. Sendo
assim convém considerar os pacientes como hipo ou hipersecretores, sendo que a
secreção urinária de ácido úrico não deve exceder 600 mg na urina de 24 horas.
Caso o paciente seja hipersecretor o medicamento de escolha deverá ser o
alupurinol, pois irá reduzir a formação de ácido úrico no sangue. Caso o
paciente seja hiposecretor de ácido úrico, como ocorre na maioria dos casos,
deverão ser utilizados os uricosúricos.
O Alopurinol
é prescrito na forma de comprimidos e em dose de 100 e de 300 mg. É um anti-hiperuricêmico.
A formação do ácido úrico é dependente da conversão da hipoxantina à xantina e
por fim no ácido úrico. O alopurinol tem
atividade de inibição da xantina oxidade, enzima responsável pela oxidação da
hipoxantina em xantina, inibindo assim a formação de ácido úrico a nível
plasmático e renal. Isso é possível porque a ligação do alupurinol com a
xantina oxidase é 15 vezes mais forte que a hipoxantina. Concomitantemente
possui o efeito de acelerar a captação da xantina e hipoxantina para a fabricação
de ácidos nucleicos.
Tanto o
alopurinol, quanto seu metabólito – oxipurinol – são ativos, embora o
metabólito tenha menor efeito e maior tempo de meia vida. Dentre dois ou três
dias de uso alcança-se redução máxima dos níveis de ácido úrico, mas é
necessário tatear a administração para evitar efeitos adversos.
É necessário
tatear a dose, pois as modificações rápidas de ácido úrico no sangue podem
precipitar crises dolorosas nada discretas. Inicia-se com 100 mg ao dia e
solicita-se o exame de ácido úrico sérico no quarto dia. Caso não haja redução
a dose pode ser aumentada. 100 a 200 mg são prescritos para níveis discretos de
ácido úrico sérico. 300 a 600 mg para doses moderadas e de 700 a 900 mg para
níveis graves. Lembrando que não é justificado o início do tratamento
medicamentoso na presença de sintomas. Até esse momento a terapêutica é realizada
apenas a base de dietas com restrição de purinas – encontradas nas carnes,
defumados, linguiças, sardinha, frutos do mar, soja, anchova e ervilha. Alimentos
ricos em vitamina C também devem ser ingeridos moderadamente, pois a
acidificação da urina facilita a formação dos cálculos de urato, que estarão
mais concentrados nas via renal. Essa mesma justificativa vale para maior
ingesta de água.
Apenas pequena
porção dessa medicação é ligada a proteínas plasmáticas e por isso sua
eliminação é eminentemente renal, o que demanda que em pacientes nefropatas a
dose deve ser diminuída. É contra
indicada em gestantes. Nas crianças raramente é indicada, mas se for a dose é
de 10 a 20 mg/Kg até a dose de 400 mg diária. No paciente nefropata a dose deve
ser de 100 mg, mas com o cuidado de manter os níveis de oxipurinol sérico em 15
micromol/litro. Se o paciente faz diálise a dose é de 300 a 400 mg sempre após
a diálise sem doses intermediárias.
Alopurinol ________100mg__________ 01 caixa
Uso: 01
comprimido ao dia após o almoço.
OBS: tomar
bastante líquido durante o tratamento, não menos que 2 litros ao dia.
O alopurinol
jamais deve ser introduzido durante as crises. Nesse caso o ideal é iniciar com
colchicina, um fármaco anti-inflamatório específico para tais casos. O
mecanismo farmacológico deste medicamento não é completamente esclarecido, mas
acredita-se na diminuição da migração de leucócitos e fagocitose, diminuindo a
produção de ácido lático – consequentemente dificulta a formação dos cristais
de urato – e formação de outros agentes pró-inflamatórios, tais como a
interleucina-6. É importante estar atento ao fato de que esse medicamento não
reduz os níveis de ácido úrico, apenas a sensação dolorosa secundária.
A posologia
diária durante a crise de dor varia entre 4 e 10 mg, já para a prevenção a dose
é bem menor. Para os adultos a dose deve ser de 01 comprimido de 0,5 mg de
24/24 horas a 8/8 horas dependendo da resposta. Na crise aguda uso pode ser
prescrito a dose de momento de 0,5 mg a 1,5 mg, seguindo com 01 comprimido de
0,5 mg 1/1 hora ou 2/2 horas até
controle dos sintomas, sendo que a dose máxima por dia não deve ultrapassar 10 mg.
Os pacientes crônicos podem fazer uso por três meses ou mais a depender do
critério médico, mas na presença de diarreia o medicamento deve ser suspenso,
pois ele próprio pode ser a causa.
Exemplo
clássico de uricosúrico é a narcaricina. Ele inibe a reabsorção do ácido úrico
a nível de túbulo próximal e normaliza os níveis séricos de ácido úrico em
aproximadamente uma semana. A redução dos tofos gotosos é exponencial, e após
tal evento as crises de dores não costumam mais ocorrer.
Os
comprimidos de narcaricina são apresentados em comprimidos sulcados na dose de
100 mg, assim como o alopurinol. O medicamento deve ser prescrito para uso de
um comprimido após o café da manhã. Essa dose já normaliza os níveis após a
primeira semana. Caso seja necessária uma intervenção agressiva pode-se
prescrever dois comprimidos, mas essa é uma conduta questionável, pois como
dito antes, as modificações mais rápidas dos níveis de ácido úrico no sangue
pode precipitar as crises dolorosas.
Exemplo de prescrição:
Colchicina ________0,5mg__________ 01 caixa
Uso: 01
comprimido V. O. 8/8 horas.
OBS: não
ingerir bebidas alcóolicas.
Exemplo de prescrição:
Narcaricina ________100mg__________ 01 caixa
Uso: 01
comprimido ao dia após o café da manhã.
Em relação à dieta é necessário restringir a ingesta de carnes vermelhas, enlatados e sementes em geral, tais como a linhaça e os demais alimentos citados aqui. É salutar que a paciente seja avaliada por nutricionista e educador físico para alcançar a redução do peso. É muito importante a redução da ingesta de bebidas alcoólicas. Se possível não ingerir em nenhuma quantidade. Dentre todas as bebidas a mais agressiva para esses casos é a cerveja e a menos agressiva é o vinho.
REFERÊNCIAS
LOPES, Antônio
Carlos. Tratado de Clínica Médica. 2. ed. São Paulo: Rocca, 2009.
COTRAN, R.S; Kumar V; COLLINS, T.
Robbins. Bases Patológicas das Doenças: Patologia. ed. 7. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
BULAS DOS CITADOS MEDICAMENTOS
Narcaricina. Bula. Disponível em:
http://www.medicinanet.com.br/bula/3558/narcaricina.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário