Aparência da pele em casca-de-laranja, surgido em alguns casos de câncer de mama.
Calcificações em mama observados em exames de imagem.
FATORES DE RISCO CÂNCER DE MAMA
Dente os fatores de risco mais
intrigantes será o número de ciclos menstruais, pois por conta das modificações
proliferativas da mama haverá uma predisposição a lesões de DNA nos ductos,
elevando as chances de mutações. O uso de contraceptivos orais combinados (AOCs),
as famosas pílulas anticoncepcionais, continuamente poderia então ser um fator
de proteção, já que a forma dos seios se estabilizaria com o tempo. Os AOCs
ainda podem prover proteção contra o câncer ovariano por inibir a proliferação
celular. Já a reposição hormonal pós-menopausa tem relação positiva a respeito
da incidência do câncer de mama, principalmente quando o estradiol é combinado
com a progesterona. A obesidade se relaciona com os níveis de estradiol sérico,
pois ocorre uma produção desse hormônio no tecido adiposo no período
pós-menopausa. A ingesta de álcool também se faz fator de risco devido à produção
do acetaldeído em seu processo de metabolização.
Gravidez antes dos vinte anos,
sendo a termo, se constitui um fator de proteção, sendo embasado no fato da
gravidez induzir a diferenciação total da mama num período de funcionamento
ótimo dos mecanismos de defesa do organismo. Então as células cancerígenas em
potencial seriam mais facilmente mortas pelo organismo.
Parentesco de primeiro grau
naturalmente aparenta ser um fator de risco determinante, mas na prática não se
observa nada drástico, porque, por exemplo, apenas 1% das mulheres acometidas
por essa neoplasia tem mais de um parente com histórico da doença.
Foi atribuído ainda um fator de
risco à origem judaica, pois nessa população apenas três mutações específicas
são responsáveis por 95% de todos os indivíduos com os genes mutados BRCA1 e 2.
PATOGÊNESE
Alguns pacientes apresentam
inicialmente vermelhidão em extensa área da mama, quando o risco de malignidade
chega a 95%. Caso ocorra, após 30 duplicações o nódulo alcança 1 cm3 e já é
clinicamente palpável, podendo também envolver linfonodos próximos ou à
distância, pois os primeiros não são barreira para as células modificadas.
Outro fator clinicamente encontrado são os nódulos axilares ipsilaterais, mas
esses não podem guiar nenhuma conduta, pois em 40% das pacientes com evolução
maligna eles não estão presentes e dentre os que estão outros 40% não possuem
envolvimento tumoral. É preciso ter cuidado em não orientar as pacientes a
terem confiança na palpação da mama, pois metade dos cânceres invasivos não é
palpável.
O prognóstico pode seguir três
parâmetros essenciais: poder invasivo, tamanho do tumor e número de linfonodos
axilares. Tanto o livro Tratado de medicina interna de Cecil, como o tratado de
clínica médica de Antônio Carlos Lopes citam a presença de receptores de
estrogênio e progesterona nas células tumorais como um fator de sobrevida por
conta de sua resposta ao tratamento hormonal adjuvante, podendo também ser
considerado um fator de bom prognóstico.
Quase todas as pacientes devem
ter ao menos seis linfonodos retirados, caso a biopsia do linfonodo sentinela
(primeiro linfonodo a ser atingido pelas células malignas) for positiva.
A DOENÇA HEREDITÁRIA
Mutações são críticas na
tendência à malignidade, permitindo ao câncer de mama invasivo ser responsável
por 75 a 85% de todos os cânceres com poder metastático. Dentre os tipos, o câncer
ductal é o mais propenso a se tornar invasivo, sendo responsável por 85% dos
casos relacionados a essa patologia. 25% das mutações causadoras do câncer
hereditário aqui ocorrem em dois genes autossômicos dominantes: o BCRA1 e o
BCRA2. Sem a mutação esses genes comandam atividades supressoras de tumor
através de regulação da transcrição, reparação de DNA danificado, remodelação
da cromatina e degradação proteica via ubiquinona. O BCRA2 também atua evitando
os erros na recombinação entre cromossomos homólogos. O que não se tem certeza
é como esse mecanismo afeta especificamente a mama, podendo ocorrer
potencialmente por mecanismos que existam em outros órgãos e não na mama.
Quando o câncer envolve o BCRA1
tem-se um prognóstico pior porque não há expressão de receptores hormonais,
além de haver a superexpressão de um fator de crescimento epidérmico (HER/neu),
mas no tocante a aparência não há distinção entre os cânceres envolvendo os
dois genes mutados. Outros genes mutados que estão envolvidos com o câncer de
mama, por exemplo o PTEN, LOH e ATM, todos acrescendo os BCRA 1 e 2 são
responsáveis por dois terços de todos os cânceres de mama hereditários, ficando
o outro terço sem explicação, com a hipótese da existência do gene BCRA3 ainda não validada.
A DOENÇA ESPORÁDICA
Apesar de não haver ligação
hereditária, no câncer esporádico também haverá genes BCRA1 e 2
hipoativos. Assim os principais fatores
de risco estão relacionados a predisposição genética, exposição hormonal ligada
ao sexo, idade da menarca e menopausa, amamentação e exposição a estrógenos
exógenos. Isso ocorre porque durante a metabolização dos estrógenos são gerados
radicais livres que tem potencial para lesionar o DNA, favorecendo a divisão de
células com potencial para o descontrole de crescimento.
Robins e Contran citam um modelo
geral que afirmam serem necessárias sete modificações para que uma célula
torne-se maligna. Pode ser uma perda de um ponto de controle ou uma
instabilidade genética, começando pela falha na inibição de crescimento e
indução de apoptose. As células epiteliais do carcinoma mamário não se tornam
indiferenciadas, mas isso não se aplica totalmente a outras estruturas, pois as
mesmas modificações que ocorrem na puberdade como o aumento das ramificações
dos ductos lactíferos e proliferação dos lóbulos voltam a ocorrer na
carcinogênese mamária. Se o carcinoma epitelial fica restrito a estes lóbulos e
ductos pela membrana basal teremos o carcinoma in situ, mas se a função
proliferativa das células epiteliais e estromais (de sustentação) promovam o
rompimento da membrana basal as células cancerígenas podem se instalar em
outras partes do corpo.
CLASSIFICAÇÃO
O carcinoma de mama é dividido e
invasivo e in situ. Se o carcinoma se estende além da membrana basal ele é
invasivo e por isso alcança a vasculatura e outros locais do corpo. Se o
carcinoma está limitado aos ductos e lóbulos será in situ, não entrando em
contato com os vasos linfáticos e por isso não produzindo metástases. O
carcinoma ductal in situ é representado pela sigla DCIS, sendo responsável por
quase metade de todos os cânceres de mama, sendo encontrado como calcificações
e raramente como massas palpáveis. As células podem se estender para grandes
áreas da mama, distorcendo as formas dos ácinos e dando a eles uma aparência de
ductos.
O DCIS é dividido em cinco tipos,
mas é importante saber que muitas vezes existe uma mistura deles. Os tipos são:
comedocarcinoma, sólido, cribiforme, papilar e micropapilar. No tipo
comedocarcinoma há um agrupamento de células com formas variadas (pleomorfismo)
formando massas sólidas com necrose central. Há presença de calcificações
nessas massas, inflamações crônicas e por vezes refletem lesões que podem ser
palpáveis se analisadas com cuidado. Os outros tipos são também chamados de
não-comedocarcinoma. Com o cribiforme há uma regularidade no espaço entre as
células. No DCIS sólido esses espaços não existirão, também não existindo
calcificações. No DCIS papilar haverão vasos cobertos por células colunares de
formas semelhantes (monomorfismo), e no micropapilar há protusões sem estrutura
fibrovascular, além de ductos que crescem e se ramificam, podendo ocorrer
necrose central e por isso áreas calcificadas.
A doença de Paget também é um
tipo de carcinoma de mama, porém raro, ocorrendo no máximo em 2% dos casos,
manifestados como erupção formadora de crosta, eritematosa e pruriginosa. São
células com potencial invasivo que ficam restritas à mama e extravasando pelo
mamilo, permitindo que a biopsia seja realizada com preparações utilizando esse
exsudato.
Além do DCIS existe o LCIS ou
carcinoma lobular in situ. A grande maioria dos casos ocorre antes da
menopausa, com até 40% dos casos ocorrendo em ambas as mamas, o que sugere que
o problema não seja um carcinoma propriamente dito, e sim um marcador de grande
valia para a câncer mamário invasivo. Essa “confusão” ocorre pela semelhança
das células do LCIS com o carcinoma lobular invasivo, por exemplo, por não
expressarem uma proteína de adesão celular, a e-caderina. O LCIS como marcador demonstra índices de
evolução para câncer invasivo da mesma forma que o DCIS não tratado e por isso
as escolhas de tratamento envolvem mastectomia bilateral profilático.
CARCINOMAS INFILTRATIVOS
Nesse carcinoma é muito comum
formação de massa palpável, e nesse estado mais da metade dos casos cursa com
metástases para os linfonodos e causa obstrução das vias de drenagem. Isso
determina linfedema e espessamento cutâneo, com a pele ganhando um aspecto de
casca de laranja. Nas mulheres mais velhas a metástase e mais rara (20% dos
casos). Se a mama está edemaciada e eritematosa por conta de comprometimento
extenso de linfonodos há o que se chama de carcinoma inflamatório. Quando o
padrão é difuso como o referido a massa palpável é pouco nítida.
Existe uma forma de carcinoma
invasivo que não possui padrão. É chamado de NTE ou nenhum tipo especial. Nele
também há pontos de calcificação (característica do DCIS comedocarcinoma e
micropapilar), chegando a produzir um som áspero característico quando raspado.
Podem apresentar receptores hormanais e não supreexpressar genes de crescimento
epitelial – HER2/neu. Em outros pode ocorrer o contrário, superexpressando o
HER2/neu. Em ambos os casos o tumor tem consistência dura pela substituição da
gordura pelas células patológicas. Quando esse carcinoma é lobular, como no
LCIS, vai ser bilateral, tendo aqui uma consistência endurecida e de margem
irregular. Eles não produzem a e-caderina e curiosamente não tendem a acometer
os pulmões e a pleura.
CARCINOMA MEDULAR
Dentre os carcinomas originados
da mutação no BCRA1, 13% são desse tipo. Ele possui contorno bem delimitado, de
consistência mole, com alguns casos havendo um crescimento rápido. Mesmo assim
tem prognóstico melhor que os de nenhum tipo especial. Este carcinoma quase não
produz metástases ou acomete múltiplos nódulos.
CARCINOMA MUCINOSO
Assim como o medular, seu
contorno é bem definido, mas sua consistência é extremamente mole, semelhante a
uma gelatina azul. Devido ao fato de expressar os receptores hormonais o
prognóstico é razoavelmente bom.
Ainda existem outros tipos como a
carcinoma tubular, que tomam a forma de túbulos, suas células são bem
diferenciadas e as metástases não alcançam nem 10% dos casos; e por fim
carcinomas metaplásicos, que incluem diversos tipos raros de cânceres,
abrangendo menos de 1% dos casos.
REFERÊNCIAS
LOPES,
Antônio Carlos. Tratado de Clínica Médica. 2. ed. São Paulo: Rocca,
2011;
COTRAN, R.S; Kumar V;
COLLINS, T. Robbins. Baeses Patlógicas das Doenças: Patologia. ed. 7. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2005;
Goldman L, Ausiello D. Cecil: Tratado de Medicina Interna. 22ªEdição. Rio de
Janeiro: elsevier, 2005.
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