domingo, 18 de novembro de 2012

TEXTO - ESPERANÇA NO REFLEXO





Nossa! Olha pelo reflexo na vidraça o menino do outro lado da rua. Ele caminha de cabeça baixa porque está triste. Aflito, para dizer a verdade.
Pobre menino. Ele se diz tão fiel com a vida, mas olhando de longe, a vida não lhe parece tão fiel. O menino acredita que aprende uma lição com cada problema que enfrenta. Ele cresceu e sente falta da infância. Ele se tornou a versão boa de uma pessoa sem escrúpulos, e nem sabe.
O menino não entende porque olha para o chão. Ele subiu numa cadeira que alguém serrou para que caísse, mas continua sem entender porque chora. Diz que a queda não foi tão forte, porém em algum lugar que não vê está doendo e não sabe como fazer parar.
O menino sente vontade de correr, mas acha que mesmo podendo não iria. É cercado por muitas pessoas que tem como importantes e delas não sabe se distanciar. Alega que é apenas falta de calma e que com o tempo aprenderá a controlar isso também. É assim o tempo todo, numa constante intriga atrás de equilíbrio. Nunca deixa de pensar no amanhã e não percebe como isso lhe priva a vida.
Que pena! O menino está chorando. Alguém o magoou. Alguém que vai custar em esquecer. A perdoar, não. Não costuma sentir raiva de ninguém, a não ser de si mesmo. Ele dorme pouco por causa do que lhe faz chorar. Ele enxuga o rosto tão rápido e com tanta força que parece irritar-se com as lágrimas. Não tem irmãos e não admite ser mimado. Faz questão de ser por fora mais forte do que é por dentro.
O menino pensou em se entregar. Jogou consigo mesmo e perdeu no final. Está dizendo que não vai fazer isso outra vez. Isso dói. Ele vai se fechar. Talvez pela decepção recente ele esteja dizendo que será para sempre. O menino está com medo de sofrer. Diz que é perda de tempo. Por isso ele faz coisas das quais sabe que irá se arrepender, mas continua para externar a frustração.
Que é isso menino? A vida não é somente feita de baixas. Olha só as coisas que o prendem aqui. Lembra de quando costumávamos rir com nossas lembranças? Aquelas que surgiam sem motivo no meio da rua e nos deixavam com vergonha.
E os planos? Nem pense em desistir deles. São o tripé que sustenta a nossa existência. São a melhor forma de expressar o ponto em que devemos parar para olhar o horizonte à nordeste. Se estiver longe você tem um motivo para deixar uma lágrima cair no rosto. Mas não do rosto.
E isso você já o faz. E nesse momento ergue o queixo e percebe como vê alguns metros além de antes. Você se esqueceu, mas independente disso existe o fato de sempre deixarem algo no fim do caminho. Deus por exemplo nunca deixa faltar. Só basta ir buscar, porque sozinho não vem.
Menino você não deve só andar. Deixe suas pernas caminharem no piloto automático enquanto curte o vento escorrer sobre os olhos fechados. Deixe o tempo passar. Ele levará também sua irritação e te trará paz. Espera para ver. Eu te ajudo se você quiser. Assim chegará o dia e que sem perceber já estará transformado num homem.

JAIRO LEÃO
15/04/2006