Doença
causada pelo retrovírus HIV, com resultados de imunossupressão inicial para
células linfocitárias e monócitos CD4+ e posteriormente com falência dos
tecidos linfoides e diminuição de outras células de defesa. O resultado é uma facilitação
para infecções oportunistas, cânceres e manifestações neurológicas. As
populações expostas são de homossexuais – que possuem até 10 vezes mais chances
de contágio em relação ao heterossexuais –
usuários de drogas intravenosas, hemofílicos por conta das transfusões
sanguíneas, assim como outros receptores de sangue, transmissão vertical,
heterossexuais com coito desprotegido e causas inespecíficas, que correspondem
a 6% do total.
Existem dois
grupos maiores de vírus HIV: 1 e 2. A forma do vírus é esférica, com um cerne
em seu interior que é cercado por um invólucro de lipídeos advindo do organismo
hospedeiro e uma matriz proteica chamada de p17. O cerne possui duas fitas de
RNA e tem como principais proteínas a gp41, gp120, proteínas do nucleocapsídeo
p7 e p9 e três enzimas virais: proteases, integrasse e transcriptase reversa.
Quando o
vírus entra nos organismo ele se direciona prontamente para os linfonodos
porque esses possuem linfócitos T CD4+ de fácil acesso. A molécula CD4+ serve
como receptor para o vírus, mas para a entrada deste na célula é necessária a
presença dos co-receptores CCR5 e CXCR4. Os vírus possuem proteínas de membrana
chamadas gp 120 que pode se acoplar a dois tipos de proteínas na membrana do
linfócitos: a linhagem R5 se acopla ao co-receptor CCR5 no linfócito e a
linhagem X4 se acopla ao receptor CXCR4. Alguns vírus podem se acoplar em ambos
os co-receptores e por isso são chamados de duplo-trópicas.
Para a
entrada do vírus primeiro deve ocorrer a acoplagem do gp 120 à receptores CD4 e
posteriormente aos co-receptores CRC5 e CXCR4. Essa segunda acoplagem culmina
numa transformação conformacional numa outra proteína que é unida à gp120, a gp
41. Tal mudança resulta na sua fusão com a membrana do linfócito e numa
abertura por onde o cerne do vírus penetra na célula.
A atração do
vírus pode se dar por linfócitos e/ou monócitos. Quando se dá apenas por
linfócitos T os vírus são chamado de T-trópicos e quando a afinidade é pelos
dois os vírus são chamados de M-trópicos. As linhagens M-trópicas utilizam o
CCR5 e os T-trópicos utilizam o CXCR4. Como o CCR5 é expresso em linfóditos e
monócitos, acabam predominando em 90% das infecções. Como os vírus T-trópicos
só infectam os linfócitos, a viremia inicialmente é menor, mas ao longo do
tempo, por terem maior capacidade de replicação, eles se acumulam e acabam
sendo responsáveis pela fase final e acelerada da doença.
Quando entra
na célula o RNA viral se transforma em DNA viral e fica no citoplasma até que a célula se replique. Quando o DNA da célula
se abre para formar outra fita de DNA, o DNA viral se integra ao do hospedeiro,
ficando aí em forma latente e sendo replicado e utilizando o maquinário da
própria célula para fabricar os compostos necessários para sua sobrevivência
fora dela. No momento em que o linfócito recebe algum estímulo para se
reproduzir ele é ativado e se replica, só que a replicação do vírus é bem mais
numerosa, causando a morte dos linfócitos e liberando muito mais vírus na
corrente sanguínea para que infectem outros linfócitos. Ou seja, um único
linfócito permite a infecção futura de diversos outros e com isso a população
de linfócitos T CD4 vai diminuindo gradativamente. Segundo Robins, 100 bilhões de partículas virais surgem
todos os dias e 1 a 2 bilhões de linfócitos morrem nesse período.
A infecção
latente criada é uma importante via de perpetuação do vírus, pois mesmo com o
paciente fazendo uso de potentes quiomioterápicos o vírus dentro do linfócito não
é atingido. E como as células T CD4 são células de memória de longo prazo, o
vírus pode permanecer por anos dentro da célula para por algum motivo ganhar de
volta uma velocidade enorme de replicação, com consequente morte do linfócito e
liberação das partículas virais.
Os mecanismos
de depleção do número de linfócitos são diversos: acúmulo de DNA viral no
citoplasma, assim como o acúmulo da proteína gp
120, ambas relacionadas com indução da apoptose. A destruição da
arquitetura dos linfonodos, verdadeiro reservatório da carga viral. O número de
células destruídas é maior do que as de células infectadas, pois a ativação de
linfócitos pela presença do vírus no sangue provoca-lhes autólise pós-ativação;
infecção de células precursoras dos linfócitos; uma característica específica
do HIV tipo 1 X4 t-trópico é a formação de sincícios, que são células gigantes
formadas de linfócitos infectados unidos a linfócitos não infectados através da
união do gp 120 que ficou acoplado na membrana externa do linfócito com a molécula CD4 de qualquer outro linfócito
vizinho não infectado. O futuro dessa formação é a morte após algumas horas. Outro
mecanismo é a destruição de linfócitos CD4 por linfócitos CD8 sensibilizados
pela presença da proteína gp 120.
O papel dos
macrófagos na AIDS é de importante reservatório. Essa célula por si só já é um
ambiente perfeito para a replicação do vírus devido à proteção que lhe confere.
Os macrófagos também são uma via de transporte do vírus para as diversas partes
do organismo, como o cérebro. Por último quando os linfócitos CD4 já estão em
franco declínio nos estágios avançados da infecção, os macrófagos são o meio
mais seguro para a perpetuação do HIV. Um adicional problemático do paciente
com AIDS é a disfunção das células B, ocorrida em parte porque células T CD4
que poderiam estar liberando citocinas para ativá-las estarão mortos e também
porque linfócitos B T-independentes também inexplicavelmente produzem uma
defesa orgânica diminuída, o que facilita as infecções oportunistas.
A DOENÇA
FIGURAS 03 E 04: Sarcoma de Kaposi.
A AIDS pode
ser englobada em três fase: uma de
viremia aguda, uma fase crônica e fase franca. A primeira fase ocorre no
indivíduo competente, quando ocorre uma resposta vigorosa contra a presença do
vírus no organismo. Os órgãos linfoides ficam repleto de vírus, o
indivíduo apresenta sintomas
inespecíficos, como os de gripe comum em 4 a 6 semanas que se resolve
espontaneamente em 2 a 4 semanas. Além dos sintomas de gripe, exantema,
adenopatia cervical, diarreia e vômitos podem ocorrer.
A fase
crônica é o estado latente citado acima. O sistema imune permanece no geral
intacto, mas o vírus está se replicando silenciosamente no interior dos tecidos
linfoides. Na maioria dos pacientes não há sintomas associados a essa fase, mas
pode ocorrer infecções oportunistas, tais como herpes zoster e candidíase oral.
Muitos casos cursam com lifadenopatia generalizada persistente.
A última fase
é a AIDS propriamente dita, quando ocorre uma falência do sistema de defesa e
aumento substancial da viremia. Clinicamente o paciente se encontra febril por
mais de mês, fadigado, perda progressiva de peso e diarreia. Futuramente as
doenças oportunistas mais graves surgem. Como o sistema fagocitário é
responsável por destruir células defeituosas, neoplasias também surgem, assim
como doenças neurológicas, caracterizando o paciente como portador de AIDS.
Existem pacientes que passam mais de dez anos para entrar na fase ativa da doença,
mas também há aqueles em que os sintomas surgem 2 a 3 anos após a infecção
primária.
Após a
exposição em até sete semanas o paciente começa a produzir linfócitos T CD8
específicas contra a proteína p24 do HIV. Isso faz com que o vírus desapareça da
corrente sanguínea e fique apenas nos linfonodos. Nesse processo os linfócitos
T CD4 tem uma grande população destruída, mas retorna aos níveis normais após o
ataque das células CD8. O número de partículas virais durante a fase de
latência tem um valor prognóstico de valor. Robins cita que um estudo
demonostrou que 8% dos pacientes que apresentavam uma carga viral abaixo de
4.350 cópias de RNA viral por microlitro desenvolveram a AIDS nu espaço de
cinco anos, quanto que para uma carga maior que 36.270 62% dos pacientes
desenvolveram a AIDS nesse espaço de tempo.
Na fase
latente há, na verdade uma queda de braço entre o crescimento viral e a
atividade destrutiva dos linfócitos CD8. No entanto, por essa batalha ser
contínua, com o tempo há uma exaustão do organismo e a carga viral vai
aumentando gradativamente até o paciente alcançar o status de AIDS. Esse declínio de células t CD4 é inclusive
utilizado pelo CDC para definições de estado viral. São três categorias que
nortearão as intervenções clínicas: acima de 500 células/microlitro; entre 200
e 499, e abaixo de 200, nível o qual o paciente é muito suscetível a
pneumonias.
Quanto a
infecção fúngica, a mais comum é a cândida, podendo ocorrer na cavidade oral e
esôfago. É um sinal de que o paciente está numa fase de transição para a AIDS.
O citomegalovírus pode causar retinite, mas os pacientes somente costumam
apresentar esse quadro quando os linfócitos estão abaixo de 50. A esofagite e
colite se apresentam em 5 a 10% dos casos e geralmente cursam com diversas
ulcerações. Outra condição importante é a tuberculose, responsável por um terço
das mortes de pacientes com AIDS em todo o mundo.
As neoplasias
mais relacionadas com a AIDS é o sarcoma de Kaposi, linfoma não-Hodgkin, câncer
de útero e anal nos homens. Estima-se que 25% dos paciente irão desenvolver
algum tipo de neoplasia maligna. Como a imunidade vai estar debilitada, a
infecção por alguns vírus vai ter nas neoplasias suas principais consequências, tais como o Epstein
Barr no linfoma de células B e o papilomavírus nos cânceres de ânus e
útero. Dos citados o Sarkoma de Kaposi é
o mais comum, ma o mais curioso é que nos pacientes que se infectam por via
sexual, a coincidência dessa neoplasia é 20 vezes mais comum em relação a
quando a infecção de dá por via parenteral. Quanto ao linfoma não-Hodgkin,
existe uma chance de 6% dos pacientes o desenvolverem ao longo da vida, havendo
por isso uma chance 120 vezes maior emrelação à população geral, havendo risco
extremo quando a contagem de linfócitos T CD4está abaixo de 50.
SINTOMAS
Na fase
sintomática o paciente pode apresentar sudorese noturna, por vezes não
acompanhada de febre. Caso exista deve ser pesquisada a presença de
tuberculose. Fadiga é um dos primeiros sintomas, geralmente surgindo no fim da
tarde e sendo debilitante quando depois de atividade física. O emagrecimento é
a longo prazo, mas chega a ocorrer de 95% a 100% dos casos. Caso ocorra
diarreia aquosa esse emagrecimento é mais intenso e répido. A diarreia é comum
e na sua presena de ser pesquisada por parasitológico de fezes, pois a
Salmonella e a Giardia lamblia costumam infectar pacientes infectados com o
HIV.
Sinusites
agudas ocorrem nas primeiras fases sintomáticas, sendo acompanhada de febre,
coriza purulenta e cefaleia fazem parte do quadro. No caso da candidíase oral,
tem-se um dado ainda mais relacionado com o HIV, já que pacientes
imunocometentes não costumam adquirir essa afecção. Gengivite pode se aparecer
em diversas intensidade, podendo evoluir para perda de tecidos moles e exposição
óssea. Aftas e feridas labiais por herpes simples também podem ocorrer, assim
como o herpes zoster.
As doenças
oportunistas englobam a tuberculose, o herpes, o CMV, pneumonias por S.
pneumoniae, além de neoplasias, como o sarcoma de Kaposi á citado.
TRATAMENTO
Existem duas
classe de medicações utilizadas no tramaento da AIDS: inibidores da
transcriptase reversa e inibidores da protease.
Inibidores da transcriptase
reversa são:
1-
Do tipo nucleosídeos
·
Zidovudina (AZT) cápsula 100 mg, dose:100mg
5x/dia ou 200mg 3x/dia ou
·
300mg 2x/dia;
·
Zidovudina (AZT) injetável, frasco-ampola de 200
mg;
·
Zidovudina (AZT) solução oral, frasco de 2.000
mg/200 ml;
·
Didanosina (ddI) comprimido 25 e 100mg, dose:
125 a 200mg 2x/dia;
·
Zalcitabina (ddC) comprimido 0,75mg, dose:
0,75mg 3x/dia;
·
Lamivudina (3TC) comprimido 150mg, dose: 150mg
2x/dia;
·
Estavudina (d4T) cápsula 30 e 40mg, dose: 30 ou
40mg 2x/dia; e
·
Abacavir comprimidos 300 mg, dose: 300 mg
2x/dia.
Não nucleosídeos
·
Nevirapina comprimido 200 mg, dose: 200 mg
2x/dia;
·
Delavirdina comprimido 100 mg, dose: 400 mg
3x/dia; e
·
Efavirenz comprimido 200 mg, dose: 600 mg 1x/dia
Nucleotídeo
·
Adefovir dipivoxil: comprimido, 60 e 120 mg,
dose: 60 ou 120 mg 1x/dia.
Inibidores da protease são:
·
Indinavir cápsula 400 mg, dose: 800 mg 3x/dia;
·
Ritonavir cápsula 100mg, dose: 600mg 2x/dia;
·
Saquinavir cápsula 200mg, dose: 600mg 3x/dia;
·
Nelfinavir cápsula de 250 mg, dose 750 mg
3x/dia; e
·
Amprenavir cápsula de 150 mg, dose 1.200 mg
2x/dia.
Geralmente o
tratamento é realizado com dois medicamentos de classes diferentes, pois nesse
caso é coberto uma maior via de mecanismos de sobrevivência do vírus. Estudos
mostram que a terapia combinada está relacionada com a redução do surgimento de
cepas resistentes à terapia antirretroviral. Uma das formas dessa resistência a
aquisição de afinidade por receptorese CXCR4 dos vírus CCR5 exclusivas
(T-trópicos). Outras mutações poderiam até ter um efeito contrário, por exemplo
mutação no receptor CCR2b, que de alguma forma de ameniza evidentemente a
progressão da doença.
REFERÊNCIAS
LOPES,
Antônio Carlos. Tratado de Clínica
Médica. 2. ed. São Paulo: Rocca, 2009.
Goldman L, Ausiello D.
Cecil: Tratado de Medicina Interna.
22ªEdição. Rio de Janeiro: elsevier, 2005. (DESTAQUE)
BRAIL. Aids:
etiologia, clínica, diagnóstico e tratamento. Unidade de Assistência. Disponível
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Aids_etiologia_clinica_diagnostico_tratamento.pdf.
3 comentários:
Ô, Jairo, tira o nome "antibiótico" no texto.
Obrigado Lívio Matheus. Acontece...
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