Os pacientes
mais relacionados ao surgimento de Sarcoma de Kaposi (SK) são os pacientes
infectados pelo HIV com imunodeficiência já instalada. É a neoplasia mais
frequente nesse grupo, predominando as formas cutâneas, assim como predominam
as lesões cutâneas em pacientes com HIV, chegando a 92% dos infectados.
O SK é um câncer
de origem nas células pluripotentes de tecidos conectivos ou de vasos
sanguíneos e linfáticos, que se diferenciam em células de musculatura lisa. A
hipótese é de que a célula sob estimulação crônica específica se transformaria
permanentemente em uma célula muscular. Tipicamente causa tumores em mucosas da
boca, nariz e anus, além de acometer pele e órgãos internos. Na maioria dos
casos não há sintomas, apenas quando o edema comprime as estruturas próximas à
lesão, quando então ocorre dor. Caso se desenvolva nos pulmões causa dispneia e
no TGI causa sangramentos. Em geral proporção é de cada mulher para 10 a 15
homens.
Todas as classificações
ocorrem mais em homens. SK clássico: 15 homens para cada mulher. Ocorre em
homens judeus de origem europeia entre 50 e 70 anos com incidência de
0,02/100.000 habitantes. Manifestação
tegumentar pode ser uma mácula, pápula, nódulo, placa, vegetação e tumorações
de origem eritematoviolácea. O crescimento da lesão comprime estruturas
adjacentes, obstruindo vias linfáticas e criando linfadenopatias que podem ser
dolorosas.
O SK africano
assemelha-se com a forma clássica com a diferença de incidir em idade bem
menor. A proporção é de 6 meninos para cada menina. Ocorre como nódulos
eritematovioláceo em palmas e plantas. Não produz mais sintomas a não ser
quando ocorre uma variante que atinge órgãos internos, mas isso é raro. Essa
forma nasce de estruturas subdérmicas e infiltra para órgãos, inclusive ossos.
O SK do
imunossuprimido surge após 16 meses de terapia imunossupressora. Acometimento
de órgãos ocorre em 25% dos casos. Já no SK relacionado à AIDS isso é
indefinido. Ocorre em diversos lugares do corpo logo após a instalação da
doença. O acometimento de órgãos inclui o fígado, pulmão, TGI e baço. A maioria
não terá sintomas, mas pode haver linfoadenopatia, febre de origem
indeterminada ou perda de peso. Apesar das pesquisas estarem desatualizadas, sabe-se que 95% dos casos envolvem homossexuais e bissexuais
masculinos e menos de 10% em usuários de drogas e hemofílicos. Na realidade
ocorre 10 a 20 vezes mais em homens homossexuais e bissexuais em relação a
homens infectados por outra via. É também mais comum em mulheres parceiras de homens
bissexuais do que parceiras de usuários de drogas injetáveis. É raro em negros
americanos, apesar de ser comum em negros de determinadas regiões da África. Os
homossexuais tem um pico de incidência de 20 a 40 anos.
O principal
fator etiológico é o herpes vírus humano-8 ou HHV-8, cuja infecção precede o
surgimento das lesões em 33 meses. A simples infecção não é necessária para o
desenvolvimento da doença, pois há uma correlação positiva entre presença de SK
e aumentos dos níveis de hormônios sexuais masculinos, a saber
dihidroepiandrosterona e testosterona, e hábitos de risco. Em contraposto há
inibição das lesões sobre a influencia do HCG por isso há uma tendência a
regressão das lesões na mulher grávida.
Teoricamente
nos 33 meses em que o HHV-8 infecta o organismo sem a doença ele fica
continuamente estimulando células alvo através de IL-1 e IL-6, fatore de
necrose tumoral alfa e oncostatina M, que inclusive tem efeito inibitório sobre
outras células tumorais. Há também secreção de um produto idêntico ao fator de
crescimento de hepatócitos e interferon gama, estes atuando à distância.
As lesões
cutâneas costumam ser o primeiro sinal, mas é comum o acometimento de órgãos e
linfonodos antes delas. Lesões no TGI estarão em 40% dos pacientes com SK
associada a AIDS. Os sangramentos aí seguem a baixa de contagem de células
TCD4, podendo causar dor, sangramento e diarreia. Uma a cada três pessoas com
SK associada a AIDS irá apresentar candidíase oral e esofágica, mais
frequentemente no palato. As lesões na garganta e esôfago podem causar
sangramentos. As lesões cutâneas podem ser alguns milímetros a vários centímetros
podendo ocorrer em vários pontos e na medida em que crescer coalescem formando
grandes placas. Elas começam de coloração cor de rosa e passam para vermelho ou
roxo. No negro o tom é marrom ou preto. Em alguns pacientes na periferia
da lesão pode haver uma tonalidade verde amarelada, consequente ao extravasamento
de hemoglobina dos eritrócitos que são destruídos no local e o depósito de
hemossiderina.
As lesões da
boca podem ser focais, ou difusas, de vermelho a roxo, podendo envolver palato
dure e/ou mole, ser exofítica e ulceradas, podendo sangrar.
CLASSIFICAÇÃO
Nodular,
localmente agressivo e generalizado. Em cada forma pode existir seis estágios:
mácula, placa, nódulo, lesão exofítica, infiltrativa e linfoadenopatia.
As lesões
cutâneas começam como máculas
eritematovioláceas, parecidas com um nevo melanocítico comum. Ocorrem bilateralmente, simétricos e geralmente nos MMII. De máculas evoluem para placas e nódulos,
crescem em forma de cúpula, esponjosos, podendo agravar para forma de
massa infiltrativa e friável. Essa infiltração pode aderir aos tecidos
subjacentes, até mesmo ossos. Eles ainda podem surgir pelo fenômeno de Kobner, quando a lesão nasce de uma área lesionada ou
enxertada, por exemplo após punção venosa, injeção de BCG, abcessos cutâneos e
incisões.
Outras
variações são a Sk ecmótico periorbicular, com telangiectasia, queloidal e
cavernoso, esse último bastante raro.
DIAGNOSTICO
O padrão
ouro é a biopsia, que vai demonstrar, inclusive células fusiformes com pleomorfismo
nuclear. O hemograma vai ser inespecífico, mas irá demonstrar
enemia, eosinofilia e monocitose. A anemia geralmente é causada pelos sangramentos
gastrotintestinais, ou por atividade autoimune hemolítica. A TC
abdominal de varredura é o exame de imagem recomendado. Ela irá
identificar envolvimento hepatoesplânico e acometimento de vias linfáticas
quando ocorrerem.
O
estadiamento ocorre pelo sistema da Aids Clinical Trials Group (ACTG) traz a
classificação: T de tumor, tendo baixo risco quando o tumor é confinado à pele;
I de sistema imune, havendo melhor prognóstico usando as células T CD4 estão acima de 150
células/ml. S de doença sistêmica, havendo pior prognóstico quando há
envolvimento de órgãos internos.
A mortalidade
geralmente não ocorre. Quando é SK associado a AIDS o paciente pode
morrer de 15 a 24 meses após o surgimento das lesões, mas isso mudou
drasticamente com a introdução ao tratamento para AIDS.
TRATAMENTO
Para lesões
cutâneas a radioterapia com feixe de elétrons é ideal, pois consegue se limitar
à derme. Tanto a SK nodular clássico, como o associado à AIDS respondem bem à
radioterapia. O acometimento de órgãos internos pode ser tratado com radioterapia
sem feixe de elétrons, mas quanto mais extensiva a doença, menos responsiva a
esse tratamento é.
Lesões
clássicas podem ser tratadas com laser de argônio, ou pode-se lançar mão da
simples excisão da lesão.
A vimblastina
é utilizada quando a contagem de leucócitos cai abaixo de 4.000. O tratamento
básico é com 3,5 a 10 mg EV de vimblastina 1 vez na semana, associado a 0,1 mg
da medicação intralesional para o caso de lesões cutâneas resistentes, fazendo
preferencia do tratamento com doses menores. As aplicações intralesionais têm boa
resposta, mas são muito dolorosas. Outros medicamentos também podem ser
utilizados como a vincristina, dacarbazina, doxorubicina, e os agentes de D. Um
esquema alternado de vimblastina e vincristina em pacientes com SK associado a
AIDS costuma ser bem tolerado, mas a leucopenia e a presença de infecções
oportunistas dificultam a continuação da quimioterapia mais pesada. Pacientes
que fazem uso de HAART costumam tolerar mais. Alguns pacientes até costumam
cursar com regressão do SK com o uso de HAART.
REFERÊNCIAS
PORRO, Adriana Maria; yoshioka, Marcia Cristina Naomi. Manifestações
dermatológicas da infecção pelo HIV. Anais
Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro: v. 75, n. 6, p. 665-691,
nov-dez. 2000.
FIGUEIREDO, A. COSTA. Sarcoma de
kaposi e infecção pelo vírus herpes do tipo 8. Medicina Cutânea Ibero-Americana, v. 26, p. 197-201. 1997.
(DESTAQUE)
COSTA, Eduardo Louzada da; VENACIO, Mariana Andrade; GAMONA,
Aloísio. Sarcoma de Kaposi. HU revista,
Juiz de Fora, v. 32, n. 3, p. 77-84, jul-set. 2006.
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